Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2018
A pista da PF (Polícia Federal) para chegar ao suposto esquema de propinas milionárias que teriam sido pagas por gigantes do petróleo a executivos da Petrobras foi o e-mail bo.ljungberg@globo.com, usado pelo sueco Bo Hans Vilhelm Ljungberg, residente no Rio de Janeiro. A partir da análise da caixa de mensagens do endereço eletrônico, foram colhidas “evidências” de que o grupo movimentou em uma frente ao menos US$ 5 milhões em valores ilícitos. Ao todo, a distribuição de valores ilícitos bateu em US$ 31 milhões, aponta a Operação Sem Limites, fase 57 da Operação Lava-Jato deflagrada na quarta-feira (5). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Mensagens recuperadas pela PF no e-mail do sueco revelaram que funcionários da Petrobras ligados à Diretoria de Abastecimento estariam envolvidos em diversos outros esquemas de corrupção, envolvendo organizações criminosas paralelas, que ocorriam na área de trading (compra e venda) de produtos da estatal, inserida na estrutura da Gerência Executiva de Marketing e Comercialização.
A Sem Limites mira negócios da área de trading da estatal e também as gigantes do mercado internacional do petróleo, Trafigura, Vitol e Glencore. Também são alvo da investigação a Chemoil, Oil Trade & Transport e Chemium.
As maiores traders de petróleo do mundo optaram por não comentar as suspeitas que pairam sobre as companhias. Procurada, a Trafigura indicou que “não comenta assuntos legais” e disse não ter nada a dizer ao ser questionado se ela foi alvo de buscas também na Suíça. A Glencore indicou também apontou que, por enquanto, não teria nada a dizer.
Um efetivo de 190 policiais cumpre no Paraná e no Rio 37 ordens judiciais – 26 mandados de busca e apreensão, 11 de prisão preventiva e 6 intimações para tomada de depoimentos. A juíza Gabriela Hardt, que assumiu a Lava-Jato com a saída de Sérgio Moro, futuro superministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Bolsonaro, decretou o sequestro de imóveis, indisponibilidades de contas bancárias e bloqueio de valores.
A Lava-Jato suspeita que, entre 2011 e 2014, as potências internacionais pagaram propinas para intermediários e funcionários da Petrobras nos montantes, respectivamente, de US$ 5,1 milhões, US$ 6,1 milhões e US$ 4,1 milhões, relacionadas a mais de 160 operações de compra e venda de derivados de petróleo e aluguel de tanques para estocagem.
A Operação Sem Limites apura o pagamento total de pelo menos US$ 31 milhões em propinas para funcionários da Petrobrss, entre 2009 e 2014.
As trading companies compram e vendem petróleo e derivados. Tais negociações são celebradas pelas empresas com diversos agentes no mercado internacional de combustíveis, dentre eles a Petrobrás.
“Os indícios apresentados pelos órgãos de persecução penal indicam que as trading companies, através da atuação de grupo criminoso intermediador, corrompiam funcionários da Petrobras encarregados destas negociações, e com isso a estatal vendia um produto por um preço mais baixo que o justo, em um ambiente de mercado idôneo, e comprava a um preço mais alto que o justo, em um ambiente de mercado idôneo”, assinala Gabriela Hardt.
O valor da comissão paga ao grupo, com parte sendo entregue a executivos da Petrobras, era denominada ‘Delta’.
A juíza detalha, com base no inquérito da PF, quem é quem no esquema. “No aprofundamento das apurações do material probatório, foram colhidas provas da existência de um grupo composto por Luiz Eduardo Loureiro Andrade, Carlos Henrique Nogueira Herz, Bo Hans Vilhelm Ljungberg, Rodrigo Garcia Berkowitz, César Joaquim Rodrigues da Silva e Carlos Roberto Martins Barbosa, envolvido no pagamento de vantagem indevida a executivos da Petrobras em outros contratos e áreas de atividade da estatal, especialmente na área de trading, de compra e venda de petróleo ou derivados da ou para a Petrobras por empresas estrangeiras como a Trafigura, Vitol, Glencore, Chemoil, Oil Trade & Transport e Chemium”, pontua a magistrada.
Os investigadores apontam pagamento de propinas em negócios de locação de tanques de armazenagem da ou para a Petrobras pelas empresas estrangeiras.
“Em síntese, essas empresas utilizavam o grupo formado por Luiz Eduardo Loureiro Andrade, Carlos Henrique Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg para intermediar negócios de trading junto a executivos da Petrobras e ele, o grupo, realizava pagamentos de propinas a estes, destinando-lhe parte da comissão recebida”, ressalta Gabriela Hardt.
Segundo a Procuradoria, o ex-diretor de Internacional da Petrobras, Nestor Cuñat Cerveró, em seu termo de delação premiada 17/23, “já havia traçado um panorama sobre os ilícitos perpetrados na área de trading de produtos da Petrobras, sobre a pulverização desses ilícitos por diversos cargos, produtos e países e sobre a existência de ingerência política nos negócios em tal área”.