Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 20 de junho de 2017
O TRT-PR (Tribunal Regional do Trabalho do Paraná) manteve a condenação que obriga o Hospital Evangélico de Curitiba a indenizar a médica Virgínia Soares de Souza, que chefiava a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), da instituição. Ela foi demitida após ser acusada pela polícia de antecipar a morte de pacientes que estavam sob os cuidados dela. A Justiça, porém, a inocentou do suposto crime.
Segundo a defesa de Virgínia, a decisão já transitou em julgado, ou seja, não há mais possibilidade de recursos por parte do hospital. Procurada, a direção do Evangélico disse que não iria comentar o caso, pois os acontecimentos são da gestão anterior. Conforme o advogado de Virgínia, Guilherme Assad de Lara, a estimativa é de que o pagamento chegue a R$ 4 milhões. Ele comemorou a decisão.
“Foi um processo delicado, com toda uma opinião pública por trás, mas a Justiça foi absolutamente isenta em julgar o caso, analisando tudo de forma técnica. A doutora Virgínia trabalhou por 20 anos na UTI, sem registro de carteira de trabalho e sem receber os direitos mínimos garantidos pela CLT, como férias, 13º salário e FGTS. Agora, o hospital foi definitivamente condenado”, afirmou.
O processo trabalhista reconheceu vínculo de emprego, já que a médica não tinha registro em carteira de trabalho, bem como horas extras, intervalos, adicional noturno, recolhimento de FGTS e verbas rescisórias.
Inocência em primeira instância
Em abril deste ano, o juiz Daniel Surdi Avellar, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba, decidiu inocentar a médica Virgínia Soares de Souza e outras sete pessoas acusadas de antecipar a morte de pacientes que estavam internados na UTI do Hospital Evangélico, na capital paranaense. O magistrado considerou que não havia provas conclusivas de que os acusados haviam atuado para matar os pacientes e que muitos depoimentos foram contraditórios, o que enfraqueceria a acusação.
Apesar da absolvição em primeira instância, o MP-PR decidiu recorrer da decisão. A promotoria acredita que há provas de que Virgínia tenha sido, de fato, a responsável pelas mortes na UTI do Evangélico.
Caberá agora ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) decidir se aceita ou não o recurso dos promotores. Caso ele seja aceito, Virgínia e os outros sete acusados ainda poderão responder pelos supostos crimes. Até que isso ocorra, todos são considerados inocentes perante à Justiça.
Caso
O caso ganhou repercussão em fevereiro de 2013, quando Virgínia foi presa pela Polícia Civil. Posteriormente, o Ministério Público estadual a denunciou por sete homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha. Segundo o MP, ela usava um coquetel de medicamentos, o chamado “kit morte”, para induzir pacientes ao óbito. O objetivo seria liberar leitos na UTI para a chegada de novos pacientes. A investigação foi baseada na oitiva de testemunhas, interceptações telefônicas e análise de prontuários médicos.
Quatro anos após ter ficado conhecida como a “doutora morte”, a médica Virgínia Soares de Souza, 60, hoje vive reclusa em seu apartamento, na região central de Curitiba, onde mora com um filho e a cachorra Naomi. Sem perspectivas de continuar na medicina, ela trabalha como uma espécie de telemarketing, em uma pesquisa por telefone para uma clínica de radiologia local.