Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de março de 2020
Nutricionista materno-infantil, consultora de amamentação e mãe de Cecilia, a carioca Joana Adnet, de 38 anos, nunca ligou para bebida. Mas, por conta de suas pesquisas, virou referência quando o assunto é amamentação e consumo de álcool. O texto que publicou em sua página no Facebook, a Nutri Jow, viralizou entre as mães do Rio. Ela lembra que enquanto no Brasil a regra é “lei seca”, lá fora, respeitados pediatras, como Jack Newman e Carlos Gonzalez, “são liberais pois levam em consideração o quanto proibições podem colocar em risco a duração da amamentação”.
Por que mães que amamentam e bebem socialmente são tão recriminadas?
Por falta de informação e machismo. Além da ideia equivocada de que mães são santas imaculadas.
Como esse tema entrou em sua vida?
Quando comecei a amamentar, fiquei incomodada com a quantidade de informações equivocadas. Era um tal de “não pode tomar remédio”, “não pode comer chocolate”, “não pode beber”. Isso me pareceu o arcabouço de uma estratégia cruel
contra a amamentação. A maternidade por si só já é construída em cima de uma série de renúncias. Chegar para a mulher que doa diariamente a própria vida e o próprio corpo por alguém e falar que ela não pode nem brindar no aniversário, mesmo ela podendo, é demais para mim. Encontrei um excelente texto do Carlos Gonzalez sobre o tema que me inspirou a escrever e a pesquisar mais sobre o tema.
Qual conselho daria para mães terem uma vida social saudável?
Divirtam-se e entendam que, além de todo cuidado para com os filhos, a felicidade das mães é importante para o desenvolvimento das crianças. Se forem consumir álcool, não passem de uma taça de vinho ou dois chopes, e recusem os destilados. Alimentem-se e bebam água junto. É importante dizer que grandes nomes da amamentação no exterior, como o pediatra canadense Jack Newman e o espanhol Carlos Gonzalez, são muito liberais em relação ao consumo de álcool por nutrizes. Eles levam em consideração o quanto esse tanto de proibições e renúncias podem colocar em risco a duração da amamentação. Nossas recomendações oficiais aqui no Brasil contraindicam completamente o consumo, visando zerar a presença de álcool no leite, sem levar em conta que a quantidade presente pode ser ínfima e inócua. Na minha prática eu sempre tento tirar uma média entre o que dizem as evidências e o que diz nossa cultura.
A partir de quantos meses está liberada uma taça?
A partir dos 3, não só pelo bebê, que, por ser muito pequeno e mamar grandes volumes, estaria mais suscetível a possíveis efeitos colaterais, mas pelo processo de lactação em si. Até os 3 meses, a amamentação ainda está se estabelecendo, a produção se ajustando à demanda. É um processo bem delicado que depende de um ajuste muito fino entre o estímulo do bebê e a resposta hormonal que modula a produção. O álcool tem o potencial de inibir um hormônio que faz a ejeção do leite, a ocitocina. Portanto não é interessante se expor a esse efeito num período tão delicado.
E como explicar isso de forma direta para quem olhar torto para uma mãe?
Segundo informações do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool, uma pessoa levemente alcoolizada tem entre 0,01% 0,05% de álcool no sangue. O álcool passa do sangue para o leite materno na razão 1:1, ou seja, o percentual de álcool no sangue é igual ao percentual de álcool no leite. Portanto, se uma nutriz está com 0,05% de alcoolemia, 100ml de seu leite terá 0,05g de álcool. Isso é bem pouco em se tratando de uma exposição pontual. A situação muda de figura se falarmos em consumo frequente. Mesmo em pouca quantidade, esse consumo não deve passar de pontual. O consumo frequente pode impactar negativamente a produção de leite materno.
Por que o consumo de álcool na gestação pode ser mais grave?
Porque corre o risco de causar a Síndrome Alcoólica Fetal, e não há quantidade segura. Uma única exposição, dependendo de muitas variáveis, já pode causar danos. Então a recomendação é que não se consuma álcool algum durante a gestação. O embrião/feto em formação é muito mais suscetível aos efeitos deletérios de certas drogas do que um organismo já desenvolvido.