Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2018
A ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes) pediu ao MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) na tarde desta sexta-feira (10) a abertura de investigação por crime de racismo contra o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).
Candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), Mourão disse na última segunda-feira (6) que o Brasil herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos. Disse ele: “E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégico. Mas tem uma dificuldade para transformar isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’ aqui no nosso país, infelizmente”, disse Mourão. “Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural”.
A declaração foi feita em um evento na cidade gaúcha de Caxias do Sul, quando Mourão falava sobre as condições de subdesenvolvimento do País e da América Latina. O general alegou posteriormente ter sido mal interpretado.
O advogado Marcello Ramalho, do escritório de Advocacia Bergher & Mattos Advogados Associados e quem representa a Educafro nesta demanda, explicou que a fala de Mourão pode ser enquadrada no artigo 20 da Lei do Crime Racial (7.716/1989). A pena para este tipo de crime é de reclusão de um a três anos e multa.
“Vamos aguardar a providência do Ministério Público, que vai colher as provas e, eventualmente, instaurar o inquérito”, afirmou Ramalho.
No evento de segunda-feira, o general também afirmou ser favorável à democracia e voltou a dizer que “intervenção militar não é varinha mágica”, apesar de tê-la defendido no passado. Em setembro passado, Mourão chegou a falar na possibilidade de intervenção militar caso as instituições do País não resolvam a crise política, “retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos”. Anteontem, no evento que referendou seu nome para a vice de Bolsonaro, ele admitiu que não foi “feliz na forma como disse isso” e que isso deu “margem para outras interpretações”.
Presidenciáveis
A fala do general foi criticada por presidenciáveis. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, afirmou que Bolsonaro e Mourão “se merecem”. “Quando o preconceito se junta com a estupidez o resultado é esse”, criticou nas redes sociais. A candidata da Rede, Marina Silva, também avaliou o comentário como preconceituoso. “Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidencial.”