Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2019
Por Gabriella Rocha*
De um lado, o “sonho americano”. De outro, pai e filha abraçados, submersos na água do Rio Bravo, na fronteira do México, sem batimentos cardíacos. A imagem capturada pela jornalista Julia Le Duc conta a história da tentativa de mais uma família salvadorenha de viver nos Estados Unidos, com a esperança de encontrar no país um futuro melhor.
Óscar Alberto Martínez Ramírez partiu com a esposa, Tania Vanessa Ávalos, e a filha Valeria, de um ano e onze meses, em uma jornada até a cidade de Brownsville, no Texas (EUA), em busca de melhores condições de trabalho e vida. A mulher contou ao jornal mexicano “La Jornada” que viu o momento em que a filha e o marido se afogaram.
Segundo ela, Óscar teria, primeiro, levado a criança em terra firme. Depois, ele voltou para a água, para ajudar a esposa, que também tentava atravessar o rio, mas foi surpreendido ao ver que Valéria havia se jogado na água, atrás do pai. Ele conseguiu alcançá-la, mas os dois não resistiram à correnteza e foram arrastados por cerca de 500 metros de onde estavam.
Óscar faleceu aos 25 anos. Ele trabalhava como cozinheiro em El Salvador, um dos países mais violentos do mundo. A capital, San Salvador, é dominada pelas gangues “Mara Salvatrucha (MS)” e Barrio 18, que disputam de forma violenta os bairros da cidade, ameaçando famílias, realizando rituais com extrema crueldade e execuções contra os membros de outras facções, ou contra os próprios integrantes, em episódios de punição.
Por cerca de um mês, eles enfrentaram a escassez de alimentos e as altas temperaturas da região, que alcançavam os 45ºC em alguns dias. Tania contou que eles acreditaram que atravessar o rio seria uma forma de agilizar a entrada no país. Os três saíram no último domingo (23), e o corpo do pai e da filha foi encontrado nesta segunda (24). Diariamente, hondurenhos, salvadorenhos e nicaraguenses atravessam a pé a fronteira dos EUA, em busca de asilo político.