Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Luís Eduardo Souza Fraga | 6 de novembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Desejo iniciar este texto propondo uma reflexão: será que as críticas que nós, brasileiros, recebemos do exterior — e também internamente — são meros preconceitos ou há um fundo de verdade nelas?
Refletir é preciso.
Lembro-me de um telejornal que assisti há alguns anos e que me deixou estupefato com o comportamento “rasteiro” de um brasileiro no exterior. Não se tratava de alguém sem instrução — era um médico.
Aparentemente desprovido de conhecimento sobre a cultura local (talvez não tenha dado importância às aulas de História no Ensino Médio), ele fez gracinhas desrespeitosas a uma vendedora muçulmana em uma loja, cometendo um ato que, para aquela cultura, constitui crime. Para o “brasuca”, porém, foi apenas uma “brincadeirinha”, afinal, o brasileiro é assim: brincalhão por natureza. Ou será inépcia mesmo?
Essa “espontaneidade” típica do brasileiro talvez seja o núcleo de muitos de nossos problemas, somada a hábitos e costumes frequentemente distorcidos de um contexto mais amplo e civilizado — atitudes que, em lugares com educação mais elaborada, não são aceitas como naturais.
Até o papa Francisco nos criticou em 2021, afirmando: “Não têm salvação! É muita cachaça e pouca oração!”. Em outras palavras, chamou os brasileiros de cachaceiros. Mas a crítica do pontífice, certamente, não se restringe à bebida: ela se dirige ao conjunto da “obra”.
De fato, não somos bem vistos no exterior, e isso causa, a uma boa parte séria e educada dos brasileiros, enorme vergonha alheia — e, em muitos momentos, vergonha de ser brasileiro.
Vivemos em um país com inversão de valores e falta de investimento em educação. E isso tem nos custado caro — algo que dinheiro nenhum paga: a reputação.
O brasileiro, em determinadas situações, é uma vergonha nacional e internacional. E não sou eu quem afirma isso — são os fatos que falam por si, repetindo-se diariamente aqui e lá fora, nos causando enorme constrangimento e gerando diversos problemas sociais e econômicos.
Até mesmo quem nos representa na Presidência da República comete gafes e erros típicos de brasileiros. Os dois últimos presidentes, por exemplo, parecem competir pelo primeiro lugar na arte de dizer absurdos e impropérios, envergonhando o país mundo afora. Enquanto isso, parte dos brasileiros mais conscientes sente vergonha alheia, e outra parte se ocupa em defender o indefensável — e vice-versa. Nesse quesito, aliás, especialistas não faltam.
Mas a cereja do bolo — e que, certamente, influencia a visão que estrangeiros (e muitos de nós) têm do Brasil — é a total inversão de valores: o errado parece certo e o certo parece errado. Basta observar as declarações de muitas personalidades da televisão, da classe artística, da política e de outras áreas. É o princípio do “quanto pior, melhor”.
O Brasil é um caso a ser estudado pela ciência — mas talvez nem ela consiga decifrar nossos fenômenos.
Será que as críticas que recebemos do exterior são meros preconceitos, ou há um fundo de verdade?
Fica a reflexão.
O Brasil pode até ser abençoado por Deus, mas é criticado pelo Papa.
Prof. Luís Eduardo Souza Fraga – Historiador e escritor – fragaluiseduardo@gmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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