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Por Redação O Sul | 29 de março de 2020
FGV-Dapp monitora centenas de grupos do aplicativo e levantou os links de vídeos mais difundidos em março.
Foto: ReproduçãoO número de vídeos do YouTube compartilhados em grupos de discussão do WhatsApp cresceu 21 vezes desde o início de março, de acordo com um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Dapp). O centro de pesquisa há anos estuda o debate político e a circulação de informações em plataformas digitais.
O levantamento da FGV-Dapp considerou mensagens trocadas em 162 grupos públicos de debate político no aplicativo — que podem ser acessados mediante convites. No período, foram coletadas mais de 830,2 mil mensagens.
O debate sobre novo coronavírus (Sars-Cov-2) aconteceu em 153 grupos, com menções à doença Covid-19 em 67 mil mensagens.
Os 30 links de vídeos mais compartilhados nesses grupos entre 2 de março e 26 de março foram analisados e 14 desses vídeos (46%) têm incentivo a condutas que desprezam orientações sanitárias, apresentam informações falsas ou ignoram o impacto da doença. O material foi dividido nestas três categorias de desinformação: vídeos que contrariam orientações de médicos e cientistas – 6 links; vídeos com mentiras sobre a Covid-19 e o coronavírus – 4 links; vídeos que minimizam os efeitos da doença – 4 links.
Os outros 16 dos 30 mais compartilhados não trazem desinformação – são comentários e entrevistas coletivas, por exemplo. Um dos vídeos foi removido por violar diretrizes do YouTube.
Para Victor Piaia, pesquisador da FGV-Dapp, o YouTube sempre foi um destino dominante entre links compartilhados em grupos de política, mas ele acrescenta que o crescimento durante o mês de março é “fora do padrão e mostra a urgência do tema”.
“A simbiose entre Whatsapp e YouTube é muito forte. Não só a nossa pesquisa mostra isso, várias outras também. É muito relevante”, afirma Piaia.
Número de links saltou de 254 para 5 mil
Ao longo do mês de março, cresceu o envio de links pelo WhatsApp que direcionavam para o YouTube. A análise da FGV-Dapp levou em consideração o aumento em três diferentes períodos do mês:
O vídeo mais compartilhado dentre os que contrariam a orientação de especialistas é o pronunciamento feito na noite de terça-feira (24) pelo presidente Jair Bolsonaro. Em sua declaração, ele pediu “volta à normalidade” e o fim do “confinamento em massa”.
No esforço para evitar o agravamento do surto da Covid-19, doença causada pelo coronavírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o distanciamento social e contraindica aglomerações. E autoridades de saúde pública de diversos países gravemente afetados pela pandemia, como China, Itália e Espanha, recomendam que as pessoas fiquem em casa.
O link para o canal da TV Brasil com o pronunciamento de Bolsonaro também foi o mais compartilhado durante todo o mês dentre os avaliados pela FGV-Daap e foi citado em 285 mensagens compartilhadas no universo analisado. A fala do presidente recebeu críticas de profissionais de saúde e de cientistas.
Outros vídeos que contrariam orientações de especialistas falam sobre “histeria” (termo também usado por Bolsonaro), que ações de isolamento podem “criar caos social” e que as medidas atuais “vão quebrar completamente o país”.
Já o vídeo mais compartilhado na categoria “mentiras” cita que a China não teve “o crescimento econômico afetado” em crises como a do coronavírus. Ocorre que o país, em decorrência da Covid-19, teve contração da produção industrial pela primeira vez em 30 anos, além de redução em outros indicativos econômicos.
Outras mentiras inclusas em outros três vídeos dizem que:
O vídeo mais compartilhado com informações que minimizam os efeitos do coronavírus e da Covid-19 afirma que a doença irá matar somente “velhinhos e crianças imunodeprimidas”.
A OMS já divulgou alerta afirmando que jovens não são imunes ao coronavírus. Além disso, há relatos de morte de jovens saudáveis.
Outros três vídeos dessa categoria chamam a doença de “gripezinha”, afirmando que o coronavírus “não é perigoso para quem é saudável” ou dizendo que “índice de mortes está dentro do normal”.