Quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de setembro de 2025
Paolla Oliveira passou sua trajetória a limpo em entrevista à jornalista Maria Fortuna, no videocast “Conversa vai, conversa vem”, no ar no Youtube do Jornal O Globo e no Spotify. A atriz lembrou lembrou a infância dura, a educação rígida sem muito contato com as artes. Afirmou que começou a desbravar o mundo dentro da própria casa, se entendendo como mulher diante de uma educação machista dada pelo pai militar. Leia abaixo trechos da entrevista.
– Você disse “não” a uma novela dirigida por Luiz Fernando Carvalho, o que era considerado irrecusável. Te ofereceram outro papel e você brigou para fazer Heleninha de “Vale tudo”. Não costuma aceitar o que está posto e assim sua trajetória vem se desenhando, não é? “Vivi muito tempo no instinto de sobrevivência com a minha carreira. Não sabia que ia fazer isso, ninguém na minha família é artista, estudei em escola pública, meu pai é um homem no nordeste, militar, estudei outra coisa (fisioterapia). Venho de uma criação super rígida em que não podia sonhar com determinadas coisas. Não podia muita coisa. Meu pai trabalhava muito, a brincadeira era entre irmãos. Tive uma infância e adolescência pouco lúdica. A gente não lia, não ouvia música, era dura. Comecei a ler muito tarde. Quando tive acesso às artes, fui em busca sozinha e a arte me salvou. Falei para o meu pai que queria ir à aula de teatro, ele foi comigo. Era uma oficina grátis perto da minha casa em Tatuapé. Quando entrei em contato com aquilo, do ‘vamos imaginar, viajar, experimentar’, falei: ‘que mundo diferente’. Achei que ia ser hobby, corta para eu conseguir meu primeiro papel, e, ‘Belíssima’.”
– Peraí, antes teve “Passa ou repassa”, novela na Record, não foi? “Fiz teste pro ‘Passa e Repassa’, e isso tem a ver com minha independência financeira, queria ganhar meu dinheiro. Foi a primeira carteira assinada que tive, recebi um caminhão de que dava cesta básica em casa. Achava maravilhoso, era a prova de uma ascendência, da batalha. Fiz teste pra ‘Belíssima’, chego na terceira novela e ouso dizer ‘não’. Vem Danny Bond (de ‘Felizes para sempre’), depois de bater numa portas fechadas. Mas demorei a chegar aí. Vivi no estilo sobrevivência do ‘vamos fazer, faço, vou fazer da melhor maneira que puder’ por muito tempo. Fui fazendo até entender que já estava fazendo opções sem eu perceber. Agora, é com mais consciência, querendo mudar até o que eu mesma construí. Aceito os ‘nãos’, mas quando são de verdade. Enquanto puder, vou batalhar.”
– Foi um caminho de construção mesmo. Porque muita gente acha que você “nasceu” na TV Globo, ou no carnaval. Mas foi uma batalha grande da menina da Zona Leste, de São Paulo, que desbravou a estrada? “Olha, você falando fica até bonita… A gente vem desbravando. É que a gente não percebe o quanto desbrava ao longo do caminho. Comecei desbravando na minha família, me entendendo como mulher ali dentro daquela família muito machista, né? Não julgo o meu pai, mas ele deu essa criação que a gente não podia emitir opinião. Dessa maneira, eu fui pra vida. Mas eu não aceitei ficar assim. Fui tentando ser simpática, gentil, a não dizer não, agradar a todos, mas aí, através dos meus personagens, me senti forte. Às vezes, a gente precisa parar, dar uma olhada nas conquistas, celebrá-las, e falar: ‘Qual é a minha próxima meta?’. Vale a gente fazer isso para não estar o tempo inteiro no modo sobrevivência, como eu vivi, não, tipo: ‘Isso aqui é o que me cabe, então, é isso aqui que eu quero’. Fiz valer, fui consciente. Tenho orgulho do que eu construí diante da consciência que eu tinha, das minhas opções, entende? Muitas coisas eu não tinha consciência… agora, temos, cada vez mais!”. As informações são do jornal O Globo.