Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Ali Klemt | 2 de novembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Essa semana pesou demais em mim.
A tragédia humana e o colapso social expostos na operação policial realizada no Rio de Janeiro acabaram comigo. E acredito que acabaram com você também — caso, assim como eu, você acompanhe as notícias.
E é sobre isso. Vamos lá.
Vivemos na era da exaustão.
E não é apenas o corpo que está cansado — é a mente, a alma, a paciência e até o otimismo coletivo.
Façamos um mergulho na obra do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que chamou esse tempo de “a sociedade do cansaço”: uma era em que a liberdade virou autoexploração e o desempenho virou prisão. Mas há algo que ele não previu com precisão cirúrgica — o impacto das redes sociais e das notícias em tempo real sobre a nossa sanidade.
Ou seja: insano.
Acordamos com tragédias, almoçamos com escândalos e dormimos com injustiças. É um looping de desgraça que alimenta a ansiedade global. E, por incrível que pareça, há quem consiga simplesmente desligar disso tudo. Eu não julgo, sério. No fundo do meu coração, até invejo um pouquinho.
Veja que surgiram dois tipos de pessoas: as que escolhem se afastar do noticiário para preservar a própria paz, e as que escolhem se informar — e, portanto, pagar o preço emocional disso.
Nenhuma das duas está certa ou errada. Apenas fazem escolhas diferentes.
Mas toda escolha tem consequência.
Quem vive à margem das notícias, talvez seja mais feliz. Só precisa saber que está também abdicando de participar dos rumos do mundo. É como aquela reunião de condomínio: se você não vai, tudo bem — mas depois não reclame do aumento da taxa ou do portão novo que não gostou.
Eu, por exemplo, decidi que não participo de reuniões de condomínio.
Não quero me indispor com os vizinhos. Não ajudo, mas também não atrapalho. Acato e sigo a vida. Simples.
Mas essa é uma escolha que faço para poupar um pouquinho o meu coração. Afinal, no trabalho, faço parte do outro grupo: o dos que vivem informados — e cansados. Sou eternamente exausta. E, sim, reputo boa parte disso à constante atenção às notícias.
Todo dia mergulho no noticiário, e todo dia me afogo um pouco nas tragédias humanas. Por mais que eu me blinde, que tente criar uma carapaça… não consigo. Sou humana. Sinto. Sofro. Choro.
E aí vêm os dados.
Pesquisas mostram que a exposição intensa às redes sociais está fortemente associada a impactos negativos na saúde mental no Brasil — por exemplo, um relatório recente indicou que 36,9% dos brasileiros passam três horas ou mais por dia nas redes sociais, e desse grupo, 43,5% relataram diagnóstico de ansiedade (CNN Brasil, 2024).
Outro estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que o uso excessivo de telas piora a saúde mental em todas as faixas etárias, com níveis elevados de sintomas de depressão entre crianças, adolescentes e até idosos.
E não se trata apenas de usar demais — trata-se do efeito emocional contínuo de viver olhando o mundo desabar.
Segundo pesquisa da Reuters Institute, 47% dos brasileiros já evitam consumir notícias por se sentirem emocionalmente desgastados, impotentes ou simplesmente saturados (Poder360, 2024).
Sinto a dor, a injustiça, a violência, a falta de lógica e de compaixão.
E, sinceramente, acho que o dia em que eu deixar de sentir… é o dia em que estarei, de fato, exausta demais para ser eu mesma.
E eu jamais quero chegar a esse ponto.
Pelo contrário: este texto é para ser otimista e esperançoso.
Sim, dói.
Mas enquanto doer, é porque o corpo — e a alma — estão pedindo para reagir.
Reaja. Fale. Grite. Ponha para fora a sua indignação.
Porque pior do que absorver as tragédias é não se permitir combatê-las.
Esse é o ponto exato da minha provocação:
ou você opta por viver em uma realidade paralela (e está tudo bem, seja feliz),
ou você encara a realidade.
E aí, diante dela, tenha coragem.
Fale. Exponha sua opinião. Aja. Reaja.
Só não se acanhe. Não se amedronte.
Não se preocupe se vai perder clientes, desagradar o primo ou incomodar o vizinho.
Se você optar por entrar no ringue… aí, amigo, não dá pra ficar parado.
A hora é de agir. Falar. Gritar.
Ou você defende a sua bandeira… ou alguém vai rasgá-la.
Se não quiser brincar, não desce pro play.
E ó: o play está lotado — e nem sempre de gente legal.
Venha. E venha pronto.
Ali Klemt
@ali.klemt
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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