Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2022
As eleições gerais deste ano estão mais silenciosas. Os grupos de WhatsApp da família emudeceram. As bandeiras e adesivos nos carros rarearam. As camisetas de partidos políticos não deixaram o guarda-roupa. O brasileiro está com medo, como mostra uma pesquisa inédita da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Segundo o levantamento “Violência e Democracia: panorama brasileiro pré— eleições de 2022”, 67,5% dos entrevistados afirmam ter medo de serem agredidos fisicamente em razão de suas escolhas políticas ou partidárias. Do total de ouvidos, 3,2% relatam ter sofrido ameaças por motivos políticos no último mês. Se extrapolada a amostra da pesquisa, são cerca de 5,3 milhões que já sofreram ameaças. O estudo foi realizado pelo Instituto Datafolha, que ouviu cerca de 2.100 pessoas entre os dias 3 e 13 de agosto em cerca de 130 municípios.
O sociólogo Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum, avalia que o Brasil está “num debate eleitoral interditado”. Os casos recentes de violência político-eleitoral, como a diarista que teve uma marmita negada e os assassinatos de petistas no Paraná e no Mato Grosso, têm mostrado que as divergências políticas podem acabar em retaliação ou até em morte.
“O discurso agressivo adotado pelo atual governo e esses casos criam um clima de pânico e acabam por mobilizar aqueles que são contra os avanços civilizatórios. As pessoas, portanto, ficam paralisadas, porque realmente estão sendo ameaçadas e se tornando vítimas. Elas não saem mais com adesivos, não fazem campanha. A rua foi tomada por uma única facção ideológica”, opinou Lima.
Para a cientista política Mônica Sodré, diretora da RAPS, os achados da pesquisa são preocupantes, sobretudo num país que tem visto crescer o número de armas nas mãos dos cidadãos e enfrentado ataques constantes às instituições democráticas.
“Uma das dimensões mais importantes da democracia é o direito à participação, à expressão e à manifestação. Estamos vendo que esse direito pode estar prejudicado. Se as pessoas têm medo de se manifestar, é a própria democracia que, de alguma maneira, está ameaçada”, ressaltou Mônica.
Polarização afetiva
Felipe Nunes, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor da Quaest Pesquisa, defende que o Brasil está vivendo um contexto em que as pessoas não se tratam como adversárias, mas como inimigas. Embora nova por aqui, essa tese chamada de “polarização afetiva” já é bastante difundida em outros países. Segundo ele, o processo de identidade de grupo faz com que o eleitor acredite que, “para sobreviver, tem de aniquilar o outro lado, que também está tentando destruí-lo”.
“Tenho medido isso nas pesquisas. No Brasil, será a primeira eleição com essa característica constituída. A consequência da polarização afetiva é o aumento de violência política e do autoritarismo, o receio de declarar o voto publicamente e a redução do debate público”, explicou Nunes.