Quinta-feira, 03 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2019
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pretende retomar a linha de crédito, voltada agora para os setores de defesa e software, após a investigação sobre empréstimos para obras em Cuba e Venezuela. As informações são do jornal O Globo.
Três anos depois de suspender o financiamento para obras de grandes empreiteiras no exterior em países como Cuba e Venezuela, o BNDES se prepara para retomar a linha de crédito à exportação de serviços. Para isso, o banco já discute com a Secretaria de Comércio Exterior regras para blindar a instituição de novas investigações.
Após a Lava-Jato, porém, o foco não será mais projetos de engenharia, mas setores como defesa e software. Neles, o comprador leva não só o produto, mas também os serviços de manutenção.
A retomada da linha ainda não foi discutida com o presidente Jair Bolsonaro, que costuma citá-la como parte da “caixa-preta” do BNDES. O presidente do banco, Gustavo Montezano, afirma que o principal problema de governos anteriores foi a escolha de projetos por ideologia e diz que o BNDES precisa ser neutro. “Uma coisa que esse governo não vai fazer é eleger país por ideologia”, assegura.
Sobre o Fundo Amazônia, diz que o banco “gostaria de continuar prestando serviço ao fundo”, mas afirma que a decisão deve ser tomada pelos governo de Brasil, Noruega e demais cotistas.
1. O banco desistiu de financiar exportação de serviços?
A linha está suspensa. Hoje, eu e o banco não temos conforto (em fazer). Mas o Brasil precisa retomar esse instrumento de exportação.
2. Por quê?
Porque esse é um motor importante para a sociedade, especialmente quando você fala em exportação de tecnologia. No setor de defesa, por exemplo, tudo o que você embarca com muita tecnologia, você vende o produto e o serviço de manutenção. Um submarino, um software de armamento muito sofisticado. O cliente não conhece aquilo, ele vai precisar que você vá lá fazer serviço de manutenção. Então, para você desenvolver um parque tecnológico, é importante esse tipo de financiamento.
3. Como evitar que, daqui a dez anos, o banco tenha uma nova lista de empréstimos alvos de investigação?
O TCU está julgando a participação do banco dentro dessa política. Teve um acórdão concluído recentemente, que tratou de aspectos operacionais do processo. Já houve melhoria na forma como o banco checa os contratos.
4. Mas o banco vai mudar suas regras do financiamento?
Sim. Estamos discutindo junto com a Secretaria de Comércio Exterior alterações da política e das normas de como operar esse mercado. Nossa preocupação é não demonizar o instrumento que financia a exportação. Temos que distinguir a política do instrumento e, pelo amor de Deus, nós, como sociedade, não podemos demonizar o instrumento.
5. Essa retomada tem o aval do presidente, que sempre foi um crítico desses empréstimos?
Nunca discuti isso com o presidente. Mas quando você fala que está abrindo o mercado com a União Europeia, fazendo mais acordos internacionais e quer se tornar um país mais competitivo, parte desse pacote de competitividade internacional é ter linha de exportação. Não adianta metade do governo federal querer fazer, e a outra vem aqui, entra com ação contra funcionários.
6. O que falta para o BNDES reativar a linha?
São mudanças de governança, de como a decisão foi tomada. O processo de exportação envolve muitos agentes, todos vinculados ao governo federal. O banco tem sido muito crucificado. Está carregando o custo de imagem. O BNDES é apenas a última porta de saída. E não deve pagar essa conta. Por que foram escolhidos ali Venezuela, Cuba, Angola etc.? Foi uma política de governo. Mas será que não teria que haver uma transparência maior?
7. O atual governo não poderia privilegiar empréstimos com base na sua própria ideologia? Há um alinhamento maior com os EUA, por exemplo…
Desculpa, mas, uma coisa que esse governo não vai fazer é eleger país por ideologia. A gente tem que eleger país por capacidade de pagamento, de fazer negócio. Não por ideologia. Temos que ser neutros. Tem que ser uma visão negocial e de risco. Na hora que você coloca a ideologia na frente do risco, dá nisso.
8. A divulgação de dados sobre financiamento de obras no exterior atende o pedido do presidente de abrir a suposta caixa-preta do BNDES?
Não estou para discutir se a caixa-preta está aberta ou fechada. Minha função é recuperar a credibilidade do banco e divulgar para a sociedade informações que eu considero pertinentes para esclarecer e enriquecer o debate.