Caso pessoal
Deu um exemplo pessoal: muito antes de ela entrar no Supremo, seu pai processou um banco “no qual tinha uma pequena conta”, por acreditar que tinha “direito à correção [monetária]”, na época dos planos econômicos falidos.
Já ministra do STF, o tema chegou ao plenário. Ela preferiu não julgar o caso. “Se eu votasse contra os poupadores, iam dizer que foi só para mostrar independência. Se votasse a favor, iam dizer: ‘Ah, mas o pai dela tem ação’.”
Mesmo quando o pai, já velhinho, disse que renunciaria ao processo só para a filha poder julgá-lo, ela manteve a posição. “Ainda não expulsei a madre superiora de dentro de mim –e fui muito criticada [por ficar de fora mesmo com a renúncia do pai]. ‘Bobagem, não está querendo julgar’.”
“O cidadão brasileiro tem que ir dormir sem ter que desconfiar sequer do que o juiz está fazendo. Por isso me declarei suspeita”, afirmou à plateia.
Fleuma
A fleuma de Cármen Lúcia só foi abalada quando a mediadora leu uma pergunta da plateia que mencionava o caos no sistema penitenciário, em parte explicado pela inaptidão do Judiciário em conter o excesso de prisões provisórias.
Como ela, “do conforto da sua poltrona”, lidava com esse tipo de angústia que afeta diretamente o cidadão?
“Vem, vem para o meu lugar”, rebateu, lembrando que sua posição não era das mais fáceis. A Suprema Corte dos EUA, por exemplo, julga dezenas de casos por ano. O Supremo Tribunal brasileiro, dezenas de milhares.
Citou Jesus Cristo e Carlos Drummond de Andrade para dizer que o Supremo, afinal, não é a cura para todos os males sociais.
“Cristo fez dez mandamentos que até hoje não foram cumpridos, que dirá nós?”
Já as palavras do poeta mineiro evocadas foram as dos poema “Nosso Tempo”: “Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra”.