Sábado, 14 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de abril de 2024
Médicos do mundo inteiro estão preocupados com o crescente número de casos de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos. Profissionais de saúde relataram o cenário global como ‘assustador’, ‘preocupante’, ‘problema global’ e ‘alerta mundial’.
O câncer colorretal, que afeta o intestino grosso e o reto, tem sido uma das doenças mais pontuais na saúde e na qualidade de vida. Nas últimas décadas, especialistas observaram uma tendência preocupante: embora os casos entre os mais velhos tenham permanecido relativamente estáveis, representando a maioria dos pacientes, as taxas entre os mais jovens aumentaram expressivamente.
O oncologista clínico Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or, relata que, em comparação com as taxas de 30 anos atrás, alguns estudos indicam um aumento alarmante de até 70% na incidência de câncer colorretal em pacientes jovens. A tendência levanta sérias preocupações sobre a saúde dessa faixa etária e requer uma análise aprofundada das causas subjacentes.
Em um relatório recente da Sociedade Americana de Câncer, é apontado um aumento alarmante nos casos de câncer colorretal entre pacientes com menos de 55 anos nos Estados Unidos. Em 2019, 20% dos diagnósticos desse tipo de tumor ocorreram nessa faixa etária, representando o dobro do registrado em 1995. Os dados foram acompanhados por um crescimento anual de cerca de 3% na detecção de casos avançados.
As estatísticas americanas projetaram 19,5 mil novos casos e 3,7 mil mortes por câncer colorretal entre os mais jovens em 2023. Tendências semelhantes foram observadas em vários países europeus, incluindo o Reino Unido.
Para o oncologista Samuel Aguiar Jr., líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, a realidade é preocupante e assustadora. “Já virou normal ver pessoas jovens, de 35 ou 40 anos, chegarem no consultório com o diagnóstico desse tumor”, relata ele.
O profissional frisa que o que preocupa mais não é apenas a frequência dos casos, mas também o impacto que o câncer colorretal tem em pessoas jovens, como observa Alexandre Jácome, membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais Baixos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc).
Causas
Mas o que está por trás desse aumento alarmante de casos entre os jovens? Embora haja várias hipóteses, nenhuma delas foi confirmada até o momento, conforme explica Paulo Hoff. Uma das teorias sugere que as mudanças drásticas no estilo de vida, como a transição de uma sociedade agrária e rural para uma urbana, contribuíram para o aumento do câncer colorretal, com dietas baseadas em produtos ultraprocessados e menos alimentos naturais, além de um estilo de vida mais sedentário.
“Sabe-se que o sobrepeso e a obesidade são fatores relacionados a esse tumor, e os quilos extras são um problema cada vez mais comum”, complementou Aguiar Jr. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos, tanto em tratamentos médicos quanto na produção pecuária, também é levantado como uma possível influência nesse cenário preocupante, reiterou Alexandre Jácome.
A incidência veloz entre os mais jovens está modificando os programas de detecção precoce em várias partes do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, as autoridades de saúde começaram a recomendar exames preventivos para pessoas com mais de 45 anos, em vez dos 50 anos anteriores.
No Brasil, embora não haja um programa público de rastreamento específico para o câncer colorretal como o existente para o câncer de mama ou de útero, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) está debatendo a implementação de um programa para essa doença, previsto para ser lançado nos próximos meses.
Diagnóstico
No caso do câncer colorretal, dois testes principais são utilizados: o exame de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia. O primeiro investiga a presença de sangue nas fezes, indicando a necessidade de investigação adicional, enquanto a colonoscopia permite uma visualização direta do interior do intestino. A colonoscopia é considerada o padrão ouro devido à sua alta sensibilidade na detecção de lesões, mas sua disponibilidade e o desconforto associado a ela podem ser limitantes. Por outro lado, o exame de sangue oculto nas fezes é mais acessível e fácil de realizar, servindo como uma triagem eficaz.