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| “Depois de tirar aquela foto, ele me salvou”, disse a vietnamita que sobreviveu à Guerra do Vietnã

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Kim Phuc, então com 9 anos, foge diante das lentes do fotógrafo Nick Ut. (Foto: Reprodução)

Kim Phuc tinha 9 anos quando entrou para a história. Sua imagem correndo nua, com queimaduras de quarto grau provocadas pelo napalm, arma química que adere à pele e queima os músculos, usada naquele 8 de junho de 1972 contra a vila em que morava, tornou-se o símbolo da Guerra do Vietnã.

Embaixadora da Boa Vontade da Unesco e à frente de uma ONG, ela viaja para narrar sua experiência e para pedir o fim dos conflitos. Ela acaba de publicar uma autobiografia (A menina da foto – Minhas memórias: Do horror da guerra ao caminho da paz), que será lançada em São Paulo na sexta-feira, no Encontro Literário IDE. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Kim Phuc, 55 anos, fala de suas cicatrizes e da amizade com fotógrafo Nick Ut., que registrou o momento.

1- Como é ver fotos de crianças que se tornaram símbolo de um conflito, como a do menino Alan Kurdi, na praia turca?
Quando eu vejo essas fotos, meu coração se parte. Chega de guerras, chega de “Kims”, chega de “meninas da foto”. Eu quero que cada criança viva feliz, é o que elas merecem. São bebês nessas fotos, eles não sabem nada sobre conflito, porque eles têm de passar por isso?

2- Como é sua relação com o fotógrafo Nick Ut?
Quando tudo aconteceu [o bombardeio com napalm], eu não sabia que ele estava lá, eu não sabia nada, eu apenas corria. Eu corri por um tempo, enquanto meu corpo ainda estava queimando. E então alguns dos soldados e jornalistas que tentaram me ajudar, me deram água. Depois disso, desmaiei. Aprendi sobre a minha própria história, o que aconteceu depois que eu desmaiei, com o tio Ut [como ela chama o fotógrafo].

3- O fotógrafo passou a ser o “tio Ut”?
Sim, ele é parte da minha família. Ele salvou a minha vida e eu sou muito agradecida. Depois que ele tirou minha foto, ele colocou a câmera de lado e me levou para o hospital mais próximo, ele me salvou. Quando ele voltou a nossa vila para visitar minha família, eu não me lembrava dele de jeito nenhum.

4- Lembra da primeira vez que viu a foto?
No começo, eu não gostava dela. Eu pensava: por que ele tirou a minha foto? Eu estava naquela situação, nua e eu era uma menininha. Por que ele não tirou as fotos das crianças vestidas? Eu estava tão feia. Eu estava envergonhada. Na primeira vez que vi a foto, eu disse: “O quê? O mundo inteiro está me vendo assim?”. Uns dez anos mais tarde, quando olhei para a foto novamente e assisti ao filme que foi gravado naquele momento em que eu corria desesperadamente, eu vi a minha avó carregando meu primo Danh, que morreu horas mais tarde, e ela estava chorando. Eu me vi correndo pelas ruas com meus irmãos e meus primos do meu lado e alguns soldados atrás, e fiquei chocada. Então, eu fiquei pensando, por que eles ficaram me fotografando e filmando e não me ajudaram? Foi quando tio Ut me disse: “Nós tínhamos de filmar e fotografar aquilo, mas depois nós te ajudamos”.

5- A senhora teve de explicar a complexidade da foto para o Facebook, que baniu a imagem. Como foi isso?
Pois é, eles censuraram a foto. Eu soube depois que por conta da restrição de nudez eles baniram a foto, mas não consideraram o valor, a história real daquele momento em que ela foi tirada. Isso mostra que falar sobre a história da Guerra do Vietnã faz as pessoas compreenderem. Essa imagem tem um valor histórico. Não tem nada a ver com nudez. Em toda parte do mundo houve indignação e luta contra essa decisão e, no dia seguinte, o Facebook tirou a proibição.

6- A senhora tem sido submetida a um tratamento de laser em Miami. Tem ajudado com a dor?
Esse foi outro milagre na minha vida. Eu sofro demais com as dores por causa das queimaduras em meu corpo. Mesmo após tantos anos, ainda tenho dores. Mas nos últimos três anos eu tenho me submetido a um tratamento de laser com a melhor tecnologia utilizada. E isso tem me ajudado a amenizar a dor, reduzindo quase a metade dela. No início, não fazia sentido quando os médicos me explicaram que minhas cicatrizes eram quatro ou cinco vezes mais grossas que minha pele normal. Eles diziam que, em todas aquelas cicatrizes, eu não tinha plaquetas. Com o tratamento e todas as perfurações que são feitas nas cicatrizes, isso é como abrir as portas para o sangue circular e assim o processo de cura acontece naturalmente. Agora, minhas cicatrizes estão mais macias e eu sinto mais sensibilidade do que antes. Quando meu neto me tocou e eu consegui sentir seu toque foi muito bom.

7- Quando termina o tratamento?
Eu deveria ter encerrado esse tratamento em junho. Mas minhas cicatrizes estão ficando velhas e profundas, então a doutora Jill precisa fazer mais. Sempre que tenho tempo, marco uma sessão e voo de Toronto para Miami.

8- O Canadá passou a ser sua casa quando decidiu descer do voo em que retornava da lua de mel, de Moscou para Cuba. Como foi essa decisão?
No Canadá, aprendi inglês e me estabeleci em Toronto, que abriu as portas para mim. Foi onde encontrei a liberdade para ajudar as pessoas.

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