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Mundo Moradores de ilha isolada que mataram americano a flechadas têm histórico de hostilidade

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O missionário americano John Allen Chau posa para foto na Cidade do Cabo, na África do Sul. (Foto: Reprodução)

No final do século 19, um oficial da marinha britânica descreveu sua chegada a uma remota ilha cercada por recifes de coral, no Mar de Andaman, e como encontrou lá uma das mais enigmáticas tribos de caçadores-coletores do planeta, um grupo extraordinariamente isolado de pessoas “dolorosamente tímidas”, que comiam raízes e tartarugas e colecionavam crânios de porcos selvagens.

Fascinado, o oficial Maurice Vidal Portman basicamente sequestrou diversos ilhéus, levando-os para sua casa em uma ilha maior, onde os britânicos operavam uma prisão. Lá, seus cativos adultos adoeceram e morreram, e ele devolveu as crianças à ilha de origem e abandonou o experimento, definindo-o como fracasso.

“Não se pode dizer que tenhamos feito algo mais do que aumentar seu terror generalizado e sua hostilidade em relação a quaisquer visitantes”, escreveu Portman em seu livro, publicado em 1899.

Nos cem anos seguintes, poucos forasteiros visitaram a ilha, chamada Sentinela Norte e mais ou menos do tamanho de Manhattan, um mundo isolado formado por bosques e colinas. Quase todas as pessoas que tentaram visitar o local foram recebidas com flechadas. Na década de 1970, o diretor de um documentário da National Geographic foi flechado na perna.

Talvez os ilhéus tenham ficado traumatizados com o sequestro original. Talvez temessem as doenças levadas por estrangeiros. Ninguém jamais conseguiu compreender porque exatamente eles sentem tamanha hostilidade contra estrangeiros, e seu idioma continua a ser um mistério.

Ao longo dos anos, Sentinela Norte lentamente caiu na obscuridade. Ao menos até a quarta-feira, quando o governo da Índia revelou que um jovem americano que chegou de caiaque à ilha foi morto pelos moradores com flechas.

O episódio parece representar um choque cultural entre um estrangeiro aventuroso, que talvez estivesse tentando difundir o cristianismo, e uma das comunidades mais impenetráveis do planeta.

Na semana passada, John Allen Chau, 26, do estado de Washington, pagou US$ 350 a um grupo de pescadores para que o levassem a Sentinela Norte, no meio da noite. Os pescadores o aconselharam a não ir. Mesmo assim, ele remou seu caiaque para a praia, carregando uma Bíblia, de acordo com Deprendra Pathak, o chefe de polícia da região.

Chau tentou se comunicar com os aldeões, pessoas de baixa estatura que traziam o corpo revestido de uma pasta amarela, falando o idioma deles. Alguns se mostraram amistosos e outros não, de acordo com Pathak, que citou um longo bilhete entregue por Chau a um pescador pouco antes de iniciar a aproximação em seu caiaque, para o caso de ele não retornar.

No bilhete, ele escreveu que Jesus lhe deu a força de que ele necessitava para ir aos lugares proibidos do planeta, disseram policiais. O pai dele, Patrick Chau, disse na quinta-feira que a fé cristã lhe ofereceu consolo, ao ser informado da morte de seu filho. Ele disse que uma passagem da Bíblia era especialmente confortadora: “Há uma hora e uma estação para tudo sob o céu”.

Organizações missionárias afirmaram que Chau morreu pela maior das causas, e seus amigos o definiram como mártir. “John era um embaixador gracioso e delicado de Jesus Cristo”, afirma um comunicado do All Nations, um grupo internacional de missionários cristãos. “O privilégio de divulgar o Evangelho sempre envolveu grande custo. Oramos para que os esforços e sacrifício de John rendam frutos eternos, com o tempo”.

De acordo com os pescadores que ajudaram Chau, o percurso de Port Blair a Sentinela Norte demorou algumas horas. Chau aguardou até o alvorecer do dia seguinte para tentar chegar à ilha. Ele colocou seu caiaque na água a menos de 800 metros da costa, e remou na direção da ilha.

Os pescadores disseram que os aldeões dispararam flechas contra ele, e que Chau recuou. Ele aparentemente repetiu a tentativa diversas vezes, nos dois dias seguintes, disse a polícia, oferecendo presentes como uma bolinha de futebol, linhas de pesca e tesouras.

Mas na manhã de 17 de novembro, os pescadores disseram ter visto os ilhéus ao lado do corpo de Chau. As sete pessoas que ajudaram Chau a chegar à ilha foram detidas e serão acusadas de homicídio culposo, e de violação das leis de proteção a tribos aborígenes. Em post no Instagram, a família de Chau pediu pela libertação dos sete, e disse que ele “se aventurou por vontade própria”.

O antropólogo indiano T.N. Pandit, que visitou Sentinela Norte diversas vezes entre 1967 e 1991, disse que a hostilidade deles tem uma explicação simples: querem viver sozinhos. “Eles não querem nada de você. É você que os procura”, ele disse. “Suspeitam que não tenhamos boas intenções. Por isso resistem”.

Em 2006, dois pecadores indianos que chegaram à costa da ilha por acidente foram mortos. Quando um helicóptero militar sobrevoou a ilha em baixa altitude, alguns homens dispararam flechas contra ele. Hoje em dia, as autoridades indianas preferem evitar riscos. A marinha mantém uma zona de bloqueio de cinco quilômetros em torno de Sentinela Norte.

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