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Por Redação O Sul | 7 de novembro de 2017
A onda de acusações de assédio sexual chegou ao Congresso dos Estados Unidos. E as vítimas foram deputadas da Câmara de Representantes, que teriam sido alvo dos próprios colegas. Por causa de denúncias de uma deputada e três ex-deputadas, o presidente da Câmara, Paul Ryan, e outros influentes integrantes da Casa pediram que haja capacitação obrigatória para os legisladores e seus funcionários, e que sejam tomadas outras medidas disciplinares para combater o problema no Capitólio.
Um dos casos que vieram à tona foi o da ex-deputada republicana Mary Bono, da Califórnia, que ficou 15 anos no Congresso. Segundo seu relato, um colega da Câmara — assediador renitente — uma vez se aproximou dela numa sala de debates e disse que tinha pensado nela ao tomar banho.
Ryan enviou aos legisladores uma carta exortando providências sobre o tema. “Nenhum tipo de assédio tem vez nesta instituição”, disse ele. “Cada um de nós tem a responsabilidade de assegurar-se de que os ambientes de trabalho estejam livres de discriminação, assédio e represálias”.
Regra é autovigilância
A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, defendeu a aprovação de uma iniciativa apresentada por sua bancada que tornaria obrigatória a capacitação para prevenir o assédio, aumentaria as proteções contra represálias para os funcionários que reportem abusos e reduziria a burocracia das soluções de disputas.
O enfoque vigente no Congresso, que consiste em vigiar a si próprio, resultou em regulamentações frouxas, uma série de medidas que variam de escritório a escritório parlamentar, e um centro de queixas onde os trâmites são longos e complicados — e que muitos sequer sabem que existem.
Os incidentes apontados pelas três denunciantes ocorreram há anos, quando elas eram recém-chegadas ao Congresso. E incluem desde comentários numa audiência até insinuações reiteradas, comentários grosseiros e toques em plena sessão.
“É uma questão de poder”, disse a ex-senadora Barbara Boxer, após descrever o incidente numa audiência na década de 1980 no qual um colega lhe fez um comentário de teor sexual da tribuna, e que gerou sorrisos generalizados entre os presentes. “É algo hostil, incômodo, que pode privar uma pessoa de seu poder.”
Tema não é consenso
As legisladoras denunciantes não quiseram identificar os colegas que as assediaram. Nenhuma delas apresentou queixas na época dos fatos. Algumas alegaram que, na verdade, não estava claro a quem fazer a denúncia.
“Quando era uma recém-chegada ao Congresso, pouco depois de completar 30 anos, um legislador com maior antiguidade, casado, me propôs que fôssemos para a cama. Ri como se estivesse tomando como brincadeira, mas ele insistiu. Dali em diante evitei aquela pessoa”, disse a deputada democrata Linda Sánchez, também da Califórnia.
Segundo ela, advertiu outras colegas sobre o legislador, que continua no Congresso. Em outra ocasião, um outro legislador a tocou de forma imprópria, conta, fingindo que fora algo acidental.
Já a ex-deputada Hilda Solís recordou que teve de ouvir reiteradamente os comentários em tom alterado de um legislador, sem dar muito detalhes.
“Não acho que seja a única. Tratei de ignorá-lo, de dar-lhe as costas”, disse Solís, que deixou o Congresso em 2009 para trabalhar no governo de Barack Obama.
Mas as preocupações sobre o tema não parecem ser compartilhadas por todas.
As mulheres continuam sendo minoria no Congresso dos EUA, onde representam cerca de 20% dos detentores de mandatos. Algumas ex-legisladoras se mostraram surpresas, mesmo incrédulas, diante da noção de que uma deputada ou senadora possa sentir-se vítima de assédio sexual. Para a ex-deputada democrata Ellen Tauscher, as relações de gênero estão equilibradas na Casa.