Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2018
A guerra comercial entre Estados Unidos e China assustou os mercados e derrubou as bolsas em todo o mundo. O governo Donald Trump desferiu o ataque inicial da guerra ao anunciar a imposição de tarifas sobre importações da China no valor de US$ 50 bilhões. Horas depois, o governo chinês anunciou uma retaliação na mesma proporção, apesar da ameaça do presidente dos EUA de impor barreiras adicionais caso isso ocorresse.
O risco de uma escalada protecionista derrubou Bolsas de Valores pelo planeta, em razão de seu potencial impacto negativo sobre o crescimento da economia e do comércio globais. O conflito com a China é o mais novo front de uma ofensiva que já opõe os EUA a seus mais próximos aliados, em razão de tarifas sobre aço e alumínio. E o conflito terá em breve mais um capítulo: o governo Trump deve anunciar dentro de duas semanas restrições a investimentos chineses no setor de tecnologia dos EUA.
Trump afirmou que as tarifas anunciadas serão de 25%, impostas principalmente sobre bens que utilizam tecnologias “significativas” do ponto de vista industrial ou relacionadas ao Made in China 2025 – a política industrial que impulsiona o desenvolvimento de tecnologias que, aos olhos chineses, serão centrais para a economia do futuro, entre os quais robótica, tecnologia da informação, carros elétricos e equipamentos aeroespaciais. Celulares, TVs e outros bens de consumo foram excluídos por Trump.
Os EUA acusam a China de usar subsídios e empresas estatais para estimular esses setores e de exigir transferência de tecnologia de empresas americanas que buscam acessar o seu mercado consumidor. “Os Estados Unidos não podem mais tolerar perder nossa tecnologia e propriedade intelectual por meio de práticas econômicas desleais”, afirmou Trump na nota em que anunciou a medida, na qual acusa a China de “roubo”.
As tarifas serão aplicadas em duas etapas. A primeira atingirá importações de US$ 34 bilhões e entrarão em vigor no dia 6 de julho. Ainda não está definido quando a barreira sobre os restantes US$ 16 bilhões será adotada. A China vai retaliar nos mesmos valores e datas, com barreiras a centenas de produtos, entre os quais soja e automóveis.
A economista Monica de Bolle, do Peterson Institute for International Economics, disse que as tarifas sobre aço e alumínio já provocaram elevação de preços, movimento que deve se acentuar depois do anúncio de sexta. Se houver pressão inflacionária, ela deverá acelerar o ritmo de elevação de juros nos EUA, com impactos negativos sobre o Brasil. Marcos Jank, presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil, teme que o confronto acabe em um acordo prejudicial às exportações do agronegócio brasileiro para a China.
Impacto
Empresas americanas e o governo da China se uniram nas críticas à decisão de Donald Trump de impor tarifas sobre a importação de US$ 50 bilhões em produtos do país asiático. Mas a medida deve agradar à base do presidente, a cinco meses da eleição crucial que definirá o controle do Congresso e o futuro de seu governo.
“No presente momento, lançar uma guerra comercial não é do interesse do mundo”, disse nota divulgada pelo Ministério do Comércio da China. “Nós conclamamos todos os países a atuarem em conjunto para frear com firmeza esse movimento ultrapassado e retrógrado.”
Presidente da principal entidade empresarial americana – a Câmara de Comércio dos Estados Unidos –, Thomas Donohue divulgou declaração contrária à medida. “A imposição de tarifas coloca o custo das práticas comerciais desleais da China diretamente sobre os ombros dos consumidores, fabricantes, fazendeiros e rancheiros americanos. Essa não é a abordagem correta.”
Como exporta mais para o mercado americano do que importa, a China tem mais a perder em um primeiro momento, observou Kroeber. Mas a continuidade da guerra comercial deve afetar a imagem dos EUA e reduzir no longo prazo a sua credibilidade internacional.
Em sua avaliação, as restrições a investimentos no setor de tecnologia que deverão ser impostas por Trump dentro de duas semanas serão mais prejudiciais para a China do que as tarifas. “Investimentos chineses no setor de tecnologia nos EUA, na Europa e no Japão são um dos elementos da estratégia de Pequim para avançar no setor tecnológico”, observou Kroeber.
Estratégia. Monica de Bolle, do Peterson Economic Institute, também não vê possibilidade de a guerra comercial forçar a China a mudar sua política industrial. Em sua opinião, o que o governo Trump chama de “roubo” de tecnologia é uma estratégia legítima de desenvolvimento adotada por um país emergente. “A China exige que certas empresas americanas que queiram entrar em seu mercado façam parcerias com empresas locais e transfiram tecnologia. A empresa tem a escolha de entrar ou não.”