Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 15 de abril de 2017
O presidente Michel Temer disse ter achado “desagradável” e “constrangedor” ver seu nome citado por um ex-executivo da Odebrecht. No depoimento, em colaboração premiada à Operação Lava-Jato, o ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva disse ter participado de uma reunião com o então vice-presidente na qual foi acertada doação via caixa 2 no valor de 40 milhões de dólares ao PMDB.
“É uma coisa desagradável para quem está na vida pública há tanto tempo, graças a Deus sem manchas. É muito desagradável ouvir aquele depoimento. É constrangedor”, disse Temer em entrevista à TV Band. “Foi uma coisa que me caceteou muito”.
Na entrevista, o presidente reafirmou ter participado da reunião, que teria ocorrido no escritório político de Temer, em São Paulo, em julho de 2010, e voltou a negar ter discutido valores. “Não sabia de valores. Não se falou de contratos, evidentemente, e de nenhum tema escuso. Não tratamos de valores, nada disso”, disse.
Temer lembrou que à época as doações de empresas a partidos e candidatos eram permitidas pela Constituição, e que era comum que doadores quisessem conhecer pessoalmente as lideranças dos partidos que recebiam doações.
Este é o contexto em que teria acontecido o encontro com o ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva, delator que citou a reunião. Em seu depoimento à Procuradoria Geral da República, Faria disse ter ficado “constrangido” com a forma aberta como foram tratados os pagamentos de propinas.
Temer disse que a reunião foi marcada pelo então deputado Eduardo Cunha porque o empresário queria “apertar a mão” dele. “O deputado Eduardo Cunha me disse na época: ‘olhe, há uma pessoa aí que quer colaborar, quer contribuir para o partido, mas ele quer pegar na sua mão. Quer cumprimentá-lo’. Aí ajustamos um dia que eu estava em São Paulo”, disse.
Temer lembrou que foi presidente do PMDB por 15 anos e presidente da Câmara, e que na sua vida pública teve contato com diversos empresários. “Quando se chegava na época da eleição, não era incomum que aquele que ia colaborar com o partido, depositar oficialmente as importâncias, quisesse cumprimentar o presidente do partido. Foi o que aconteceu”.
Questionado se, diante da abertura de inquéritos contra oito de seus ministros, manteria a “linha de corte” que havia estabelecido, de só pedir exoneração após o oferecimento de denúncia, Temer disse que sim. Mas ponderou que um ministro pode pedir exoneração “se sentir confortável”. (AE)