O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, diz que a queda da inflação surpreendeu, em entrevista ao jornalista João Borges, do G1. Segundo ele, até outubro, não imaginava que seria tão rápida.

Na entrevista, Goldfajn afirmou que a queda forte do preço dos alimentos pode ter efeitos indiretos, contribuindo para reduzir outros preços e baixando ainda mais a inflação.

Sob esse cenário, o Banco Central sinalizou, ao divulgar nesta quinta-feira (2), a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve apressar o passo e reduzir mais rapidamente a taxa de juros. Mas não se comprometeu.

Com a inflação projetada para 2017 abaixo da meta, Ilan Goldfajn diz que o BC começa a olhar cada vez mais para 2018, ano para o qual a projeção de inflação é de 4,5%.

Para ele, jogar duro no início da gestão foi decisivo para levar a inflação para a meta – assim como a mudança na política econômica e a aprovação de reformas pelo Congresso.

A ata do Copom parece indicar que o Banco Central se preocupa cada vez mais com a inflação do ano que vem. É isso?
Está claro que a gente tem que se preocupar não somente com 2017, mas com 2018. Os dois anos estão no nosso horizonte de política monetária que dá para a gente atuar, e a projeção de inflação para 2018 está no cenário com os juros caindo, de acordo com o que está aí no Focus, está exatamente na meta, na meta de 4,5%. Nesse mesmo cenário, mesma projeção, a projeção de 2017 está abaixo da meta. Então significa que a gente tem que olhar os dois e saber que os movimentos de hoje vão ter impacto em 2017 mas vão ter impacto em 2018 também.  É algo que a gente colocou na ata…que a gente tem que garantir que em 2018 (a meta) será cumprida.

Na ata, há sinalização de que o Banco Central pode acelerar a redução dos juros. Mas coloca algumas condicionalidades.
A gente decidiu deixar um pouco mais aberta a decisão para os próximos meses. Olhar os dados, olhar como é que está se comportando o cenário de inflação, as expectativas de inflação, os riscos associados. A gente listou os riscos, que são riscos externos, acomodação da política econômica em outros países, você tem cenários de reforma, também há um risco, falamos em outro risco que é o risco da inflação de alimentos puxar não só os alimentos, mas puxar o resto também.

Mas esse não é um risco positivo, a inflação dos alimentos?
Isso. A gente quando fala de riscos, é um efeito indo para um lado ou indo para outro lado. Isso aí é até bom porque é uma palavra, chama risco negativo ou risco positivo. Risco para um lado, para cima, ou risco para baixo. Tudo bem, tem risco negativo e risco positivo. Uma inflação mais baixa ou uma inflação mais alta gera inércia. O que que a gente faz? A parte do choque de alimento, que é xis por cento, o impacto, você acomoda. Você não reage a ele, nem para cima nem para baixo. Nesse caso, você não reage. Só o choque, mais o impacto que ele tem nos outros (preços) como efeito secundário. Aí você leva em consideração. Vamos supor que sua projeção para o ano de 2017 seja 4,5% e houve um choque de alimentos que levou sua projeção para 4,3%. Desse 4,5% para 4,3%, você não faz nada. Mas se ela repercutir em outros preços e for de 4,3% para 4%, por causa de outros preços que foram influenciados, aí você tem mais espaço.

A batalha da inflação em 2017 está ganha?
O Banco Central nunca pode dizer que batalhas estão ganhas. Elas não são ganhas até o último dia. Então, você nunca pode dizer isso. Agora, você tem que calibrar. Quando você tem o horizonte em que ele se espalha pelos anos – não só neste ano, mas também no ano que vem –, as batalhas não estão ganhas. Estamos começando o ano ainda, estamos em fevereiro.

O comportamento da inflação está melhor do que se supunha?
Sem dúvida. Lá em outubro, eu acho que a gente não imaginava uma queda tão rápida. A gente estava até avaliando para ancorar as expectativas, e isso estava acontecendo de uma forma gradual. A inflação corrente é que caiu bem mais rápido.

O que foi decisivo para essa queda?
Primeiro fator: o governo mudou as políticas, você tem reformas. Então, você começou a tirar risco do sistema. A dúvida sobre as contas públicas começaram a diminuir porque aprovou o teto [de gastos públicos], você manda reforma da previdência para o Congresso… Eu diria que a queda do risco ajuda no combate à inflação. O segundo fator é que o combate à inflação ajuda a [reduzir] inflação. Ou seja, a política monetária também ajuda. Ou seja, você está diretamente procurando a meta, sinalizando que a meta é relevante. Não abandonar a meta. O último fator é conjuntural: atividade fraca.

Feliz com o resultado?
Banqueiros centrais são pagos para ficar preocupados, não para ficar felizes. Eu diria que estou satisfeito com o andamento até agora, mas fico, por dever do oficio, olhando todos os riscos que tem pela frente também, fazendo novas projeções. Se as novas projeções são melhores, elas são melhores, se são piores, são piores. Todas têm que ser levadas em consideração na política monetária.

Quando cairá os juros para o tomador de empréstimo?
A política monetária no começo é mais dura, o pessoal reclama e aí, na hora que começa a fazer efeito, as análises voltam a dizer que caiu. Mas leva certo tempo. Tem de ter certa paciência para os canais de transmissão, as defasagens funcionarem. A chave, tanto no combate à inflação no ano passado como neste ano, é persistência e disciplina. E você vai acabar chegando lá. Se você espera as defasagens para atuar, você vê que chega na ponta também. (G1)