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Cinema Um filme político brasileiro foi aplaudido no Festival de Veneza

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"Domingo" fala das contradições da sociedade brasileira. (Foto: Divulgação)

Um único dia em um sítio pode ser o suficiente para montar um painel das contradições comportamentais da sociedade brasileira. Essa é a proposta de “Domingo”, filme político dirigido pelos brasileiros Fellipe Barbosa (de “Casa Grande”) e Clara Linhart e aplaudido no Festival de Veneza.

Exibido na mostra independente Jornada do Autor, a trama se passa em 2003, na data em que Lula assume a Presidência. Em uma casa de campo, uma família burguesa se reúne para um churrasco. A matriarca (Ítala Nandi, esplêndida) tem medo do destino que esse governo pode reservar a sua classe social.

Nem todos da família pensam como ela, embora um de seus empregados também ache o cúmulo um “comunista” no poder. Mas ninguém ali parece dar importância: seguem com o churrasco, cada um com suas idiossincrasias, a despeito de acontecimentos inusitados que ameaçam a solidez daquele meio familiar.

O filme é político, mas sem o peso e a virulência que muitos cineastas de esquerda não conseguem evitar. É uma comédia cáustica, que progride lentamente para tons absurdos —adequados para ilustrar o quanto a sociedade brasileira pode ser absurda e surreal.

Começa com o bolero “Solamente una Vez”, repetido no longa algumas vezes, sem razão muito clara. Seria uma alusão ao governo Lula, a única vez que o Brasil teria “amado na vida”, como diz a letra?

“Queria que tivesse uma cantoria, com a família unida. Pedi que Ítala levasse uma música que ela gostaria de cantar, e ela levou essa”, diz Linhart.

Os vários personagens, quando interagem, revelam muito sobre elite, proletariado e classe média do Brasil. E surpreendem a todo instante —quando esperamos que ajam com violência, são inusitadamente compreensivos.

“Para que propósito mostrar a violência, a estupidez humana?”, diz Barbosa. “E por que os personagens pobres têm que ser mais uma vez oprimidos?”, diz, referindo-se às demandas de representação positiva de grupos historicamente oprimidos —o que o filme faz, sem parecer forçado.

Como grande parte dos filmes sobre os modos de ser da elite e de seus empregados, o longa faz um aceno a “A Regra do Jogo” (1939), de Jean Renoir. “Cada um tem suas razões”, dizia o francês. E a dupla Barbosa/Lenhart, ao não demonizar por completo nenhum dos personagens, mostra compreensão da moral renoiriana.

“A referência surge em nosso filme naturalmente. Não gostamos de desumanizar, porque ninguém na verdade é um monstro. Cada um, de fato, tem suas razões”, diz Linhart. “Na verdade, até existem monstros”, afirma Barbosa. “Mas a gente prefere não fazer filme com eles.”

Outro destaque do festival, este na briga pelo Leão de Ouro, foi “The Sisters Brothers”, improvável incursão do diretor francês Jacques Audiard pelo western. Narra a história de dois irmãos mercenários (John C. Reilly e Joaquin Phoenix) atrás de uma fórmula química capaz de facilitar a busca por ouro no velho oeste.

Audiard reconhece que nunca foi um admirador de faroestes. “Não conheço muito, nem sei se sou fã do gênero”, disse, em encontro com jornalistas. A falta de afinidade foi positiva, já que o filme contraria clichês do bangue-bangue. Há personagens que ficam tristes com a morte do cavalo e caubóis preocupados em se livrar do mau hálito. O filme, sobre companheirismo e lealdade, é menos manipulativo do que Audiard tende a ser. Foi elogiado por isso.

Já o húngaro László Nemes (de “O Filho de Saul”) foi muito aplaudido na sessão de seu “Sunset”. Mas, no boca a boca, muitos reclamaram da monotonia e do maneirismo do cineasta, ao contar a história de uma moça determinada a encontrar o irmão, na Budapeste dos anos 1910. O filme é sisudo, sufocante. Tem estrutura repetitiva, de um artista obsessivo. Mas Nemes é um visionário: cria um filme único, que, mesmo em sua chatice, é admirável.

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https://www.osul.com.br/um-filme-politico-brasileiro-foi-aplaudido-no-festival-de-veneza/ Um filme político brasileiro foi aplaudido no Festival de Veneza 2018-09-04
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