Domingo, 22 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2021
Guilherme Benchimol, fundador e diretor-executivo da XP Investimentos, começou seus negócios exatamente com foco no típico cidadão de classe média com pouca educação financeira e medo da Bolsa de Valores.
Com a poupança batendo recorde histórico e os juros menores que inflação, saber investir ficou ainda mais importante.
Benchimol, que já contou ter vendido um carro para capitalizar a XP no início dos anos 2000 e tem hoje uma fortuna de R$ 15,5 bilhões, não pensa duas vezes na hora de aconselhar novos investidores.
Para ele, que na semana passada, deu uma palestra em evento Invest Smart sobre educação financeira, a Bolsa é “a mais rentável” das aplicações.
Em entrevista, ele revela que tem 50% de seus investimentos pessoais em fundos de ações, de olho no longo prazo, apesar das incertezas atuais da pandemia.
1) Em que o senhor investe?
Sempre gostei de investir em ações. Tenho convicção de que comprar boas companhias listadas em Bolsa, que crescem a longo prazo, sempre foi o investimento mais rentável de todos, ainda mais quando a gente vive num Brasil de juros baixos.
Sempre tive muitos fundos de ações. Prefiro comprar fundos do que uma companhia diretamente. Tem um gestor que está focado em escolher a melhor companhia.
Mas obviamente esse investimento tem muita volatilidade, muita oscilação. Tenho mais de 50% do que invisto em fundos de ações. Na crise, meu patrimônio chegou a cair de 25% a 30%. Tem de ter, no bom sentido, estômago.
É justamente essa volatilidade de curto prazo que te permite ter mais retorno a longo prazo.
2) Já recuperou a perda?
Já. A média da rentabilidade dos fundos de ações no Brasil desde 1996 é de 25% ao ano. Investir em boas companhias é investir no capitalismo, na capacidade dos empreendedores de fazerem cada vez mais e melhor e conquistarem mercado.
O marcante na minha carteira é essa concentração de renda variável, mas sei que é um dinheiro de que não preciso a curto prazo. Se você precisar do dinheiro no ano que vem, não faça.
3) Se alguém quer guardar para viagem, compra de bem, custear a universidade, em que aplicar?
Se o investimento é num prazo mais curto, de até três anos, é melhor renda fixa. A curto prazo, qualquer investimento que superar o CDI (equivalente à taxa Selic: 2% ao ano), vai trazer risco, e pode ser que a pessoa não consiga recuperar o patrimônio.
4) Os brasileiros perderam o medo de investir na Bolsa?
O Brasil desde 1994 tem um dos maiores juros do mundo. A média no Brasil, mesmo que esteja em 2% hoje, é de 13% ao ano. O investidor sempre foi conservador porque sempre teve juro alto no Brasil.
Era cômodo deixar o dinheiro aplicado na renda fixa. Quando você coloca o juro a 2% ao ano, e tem a pandemia, você obriga as pessoas a tomarem mais risco mesmo, é uma questão natural.
Com 13% ao ano, você não vai assumir riscos, porque tem um belo retorno. Mas, com 2%, é mais fácil pegar 10% daquilo que juntei e assumir um pouco mais de risco. Naturalmente a consciência financeira, a educação financeira, tudo começa a aflorar mais.
Com juros altos, ninguém quer empreender, assumir risco. Por que nos EUA mais de 50% das pessoas investem em ações? Porque já teve juros baixos por muitos anos. Ao deixar os juros baixos aqui, cada vez mais vão surgir empreendedores, jovens que vão montar start-up, porque o custo de oportunidade é baixo.
Cada vez mais pessoas vão ser sócias de empresas na Bolsa e até de não listadas. E começa a nascer essa consciência que até então o Brasil não tinha.
5) É o momento de investir na Bolsa, com toda essa incerteza?
O setor de tecnologia foi o mais beneficiado com a pandemia, que obrigou as pessoas a ficarem mais em casa e muito mais conectadas. Há um número grande de empresas do setor que cresceram bastante em 2020. A própria XP, nunca crescemos tanto.
Empresas mais tradicionais, que dependem de frequência, como um shopping, foram talvez as que mais sofreram. Dependendo do cenário, sempre vão ter empresas indo melhor e outras, pior.
O desafio de um gestor de uma carteira de investimentos é justamente encontrar essas oportunidades, saber a hora de entrar, de sair, comprar uma empresa boa que está barata. Como um todo, o estimulo econômico não só no Brasil, mas no mundo inteiro, foi algo sem precedentes.
Assim que a vacina começar a ter um espaço maior na sociedade, vai fazer com que, com muita velocidade, a economia volte ao estágio anterior à pandemia. Sou bastante otimista com o Brasil, desde que se consiga aprovar as reformas. O cenário, a despeito das confusões políticas, é muito positivo, é pró-empreendedorismo.