Sexta-feira, 06 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2021
A queda de quase 90% no número de turistas em Cuba nos primeiros cinco meses de 2021, em comparação ao mesmo período do ano passado, evidenciou a crise econômica vivida na ilha. O aumento do preço dos produtos, com uma inflação em alta de cerca de 500%, e a dificuldade em obter alimentos são provas de que Havana ainda tem uma economia muito dependente de importações e dificultada pelo embargo americano, que dura quase 60 anos. A insatisfação popular com a crise ficou evidente e levou aos protestos de domingo em diferentes cidades da ilha.
Com medidas excepcionais e programas, como o Plano de Soberania Alimentar e Educação Nutricional, conhecido como Plano PAN e em início de implementação, o governo tenta criar políticas públicas que diminuam a dependência das importações e melhorem a produção nacional para ter a economia menos impactada pelo embargo e, atualmente, a pandemia da covid-19.
“É uma estratégia limitada porque continua tendo o problema estrutural. Tem o embargo que prejudica muito no desenvolvimento de produção, pela falta de maquinário e peças, por exemplo, mas tem também a burocracia que ainda é grande. As decisões são lentas, então não se consegue ter um planejamento bem feito”, explica o coordenador de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), Moisés Marques.
Cuba realizou mudanças econômicas ao longo dos anos, mas ainda não conseguiu uma estrutura que permitisse a independência da ajuda de outros países. Até os anos 90, o país tinha como principal fonte de entrada de renda a exportação de açúcar, tabaco e rum. A União Soviética comprava a maior parte dessa produção e isso permitia ao país caribenho ter até um orçamento pré-determinado.
“Com a queda da URSS, Cuba passa a tentar outras alternativas. A ilha tem até minérios interessantes, como níquel, cobalto, mas sem uma boa indústria extrativista. Nesse caso, o embargo econômico cria problemas sérios porque eles não conseguem importar maquinário”, explica Marques.
O maior impacto do embargo americano e das restrições impostas pelos Estados Unidos é ao sistema financeiro da ilha. “Isso ocorre porque as instituições financeiras e as empresas com operações ligadas aos EUA são cuidadosas para não chamar a atenção Departamento do Tesouro e do Departamento de Estado. Alguns bancos foram multados em bilhões de dólares por se envolverem em transações relacionadas a Cuba”, diz o presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich.
Após os anos 1990, com a dívida externa alta e os problemas econômicos internos, Cuba faz acordos com empresas internacionais, principalmente europeias, para desenvolver o turismo. Redes hoteleiras passam a explorar pontos turísticos e uma porcentagem do dinheiro ficava com o Estado, que também fornecia a mão de obra.
Marques explica que nesse momento cria-se a indústria do turismo em Cuba e, a partir de então, essa se torna a principal entrada de dinheiro no país. “Junto vem a criação de uma moeda paralela, o CUC, que criou também uma economia paralela. Se você fosse turista ou tivesse acesso ao CUC, tinha chances de acesso a mais coisas, por exemplo. E começam a ser permitidos os primeiros pequenos negócios na ilha, como os paladares (restaurantes em casa) e as pessoas ficavam com parte da renda”.
Foi justamente o turismo que mais foi afetado com a chegada da pandemia em Cuba. Com o fechamento das fronteiras, o turismo que era responsável por levar cerca de US$ 3 bilhões ao ano à ilha passou a levar apenas US$ 1 bilhão. “A pandemia de covid-19 foi devastadora para a economia cubana. Além dos turistas, impediu a entrada de descendentes de cubanos que vão sempre visitar a família e amigos. E isso cortou ferozmente a entrada de produtos e moeda”, afirma Kavulich.
Atualmente, para visitar Cuba é preciso reservar uma estadia em um hotel escolhido pelo governo para cumprir quarentena antes de sair e fazer turismo. Em 2020, o PIB do país caiu 11% em razão da pandemia, segundo dados oficiais, e no primeiro trimestre deste ano teve nova queda de 2%.
Nesta semana, após os protestos no país, o governo cubano permitiu, de forma excepcional e até o fim do ano, a entrada de alimentos e remédios na ilha sem pagamento de impostos. Esses itens geralmente são levados por cubanos ou descendentes que vão visitar amigos e parentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.