Quarta-feira, 23 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2022
Depois do tombo pandêmico de 2020, e da forte recuperação de 2021, a economia brasileira entrou no seu ritmo normal este ano – e isso não é necessariamente uma boa notícia. A praga que assola a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB) é conhecida como “voo da galinha”: altas que não se sustentam e levam a economia de volta à estagnação.
E ele apareceu de novo: depois de 12 meses de aceleração, a economia brasileira voltou a perder força neste terceiro trimestre. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 0,4% entre julho e setembro, abaixo do 1% dos três meses anteriores (taxa revisada).
Mas se muitas das “doenças” que impedem a economia de crescer com mais força já são velhas conhecidas – como a baixa produtividade, baixo investimento, educação deficiente – alguns fatores são específicos do momento atual.
“Os dados mais recentes corroboram que, após um crescimento forte no primeiro semestre e que surpreendeu positivamente as projeções, a gente vem observando uma diminuição da expansão, um crescimento moderado, com sinais heterogêneos entre os setores da economia brasileira. O que é uma sinalização de mudança de fase de ciclo econômico, de uma recuperação mais firme para uma perda de velocidade “, diz Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos.
E o prognóstico é que esse novo ciclo não seja virtuoso: a expectativa é de piora nos trimestres seguintes.
“O terceiro trimestre é historicamente mais fraco que os demais, é como uma virada de ciclo para o final do ano, com as empresas se organizando para a reta final, o que gera uma grande expectativa. E boa parte dessa expectativa não se confirmou no terceiro trimestre e está decepcionando ainda mais no quarto trimestre, pelos dados do comércio”, diz Idean Alves, educador financeiro, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
“O terceiro trimestre vai indicar o inverno que está por vir na economia brasileira”, profetiza.
O desempenho da economia foi auxiliado, nos primeiros trimestres deste ano, por uma série de estímulos dados pelo governo, como a liberação de saques do FGTS e antecipação do 13º dos beneficiários do INSS.
Esse efeito, no entanto, começa a se esgotar – e os estímulos que ficaram, como o Auxílio Brasil ‘turbinado’ de R$ 600, não são suficientes para manter em alta o consumo das famílias. Com isso, o quarto trimestre deve ver um resultado ainda mais tímido.
“Esse repique adicional não deve ser o suficiente para sustentar a atividade no 4º trimestre, em função dos efeitos defasados da política monetária que devem impactar a indústria e, em consequência, a atividade econômica”, avalia Wellington Nobrega, analista da 4Intelligence.
“Por mais que os programas do governo tenham contribuído para a ‘distribuição’ de renda, muito dessa renda foi usado para necessidades básicas como alimentos, bebidas, saúde e cuidados pessoais, como mostram os dados do IPCA de outubro e novembro, diz Idean Alves, da Ação Brasil Investimentos.
A política monetária mencionada por Wellington Nobrega é, por sinal, uma das principais responsáveis pelo desânimo que se abateu sobre o crescimento do PIB. Isso porque, para tentar conter a inflação (que chegou a bater nos 12% em abril deste ano), o Banco Central pesou a mão na taxa de juros, a Selic, que passou de 2% em janeiro do ano passado para 13,75% em agosto.
Juros mais altos forçam uma queda no consumo, o que tende a reduzir a disparada dos preços – mas também o crescimento da economia. Quem mais sofre são o varejo e os serviços.
“Alguns segmentos cujos bens dependem mais das condições de crédito e das taxas de juros, esses segmentos vêm esfriando e arrefecendo de uma forma mais contundente”, aponta Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos.
A alta dos juros, combinada com os impactos da aceleração da inflação, resultou na redução da renda disponível das famílias, e pesa sobre a atividade.
“A falta de excedente, já que atualmente a maior parte do rendimento vem sendo gasta com bens essenciais, tem postergado a disposição de parcela importante da sociedade brasileira de consumir duráveis”, avalia Nobrega.
Se juros e inflação pesam na hora das compras, o endividamento reduz ainda mais a capacidade de consumo das famílias. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que oito em cada dez famílias brasileiras estavam endividadas em setembro. Nas casas com renda inferior a 10 salários mínimos, o endividamento superou os 80% pela primeira vez.
“É difícil imaginar um impulso na demanda por bens duráveis. As famílias seguem bastante endividadas, a gente começa a observar elevação em taxas de inadimplência”, diz Margato. “É um sinal de balanço financeiro ainda desafiador para as famílias.”
E esse endividamento não deve dar trégua tão cedo. Isso porque, como aponta Nobrega, “o mercado de trabalho ensaiou boa recuperação nos últimos meses, com a geração de empregos puxadas pelo setor de serviços, contudo, provavelmente observaremos uma perda de tração nos últimos meses do ano”. As informações são do portal de notícias G1.