Sexta-feira, 05 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de março de 2023
Perto de completar dez anos no poder, o presidente Nicolás Maduro lançou na última semana uma operação dentro do próprio governo da Venezuela para afastar suspeitos de um desvio de US$ 21,2 bilhões (R$ 112 bilhões) de corrupção na PDVSA, a estatal do petróleo. Ao menos 19 pessoas foram presas, entre militares, juízes e membros da elite da burocracia chavista. O ministro da Energia, Tareck Aissami, renunciou ao cargo. Segundo especialistas que acompanham de perto a política venezuelana, a operação expõe uma cisão interna no chavismo, com duas facções lutando pelo poder.
De um lado, estariam os ‘reformistas’, que defendem uma liberalização da economia e regras mais flexíveis no mercado cambial. O principal expoente desse grupo é Delcy Rodríguez, vice-presidente e ministra da Economia. Ela é apontada como a responsável pelas políticas que reduziram os gastos, controlaram hiperinflação e permitiram a livre circulação de dólares. Com isso, a Venezuela saiu de um dos mais profundos colapsos da história mundial e voltou a registrar níveis modestos de crescimento, ainda que tímidos para padrões da região.
Do outro estaria a linha-dura. Encrustados no Estado venezuelano, chavistas radicais manipulam verbas, empresas e contratos milionários em diversos setores da economia há anos, e consideram essas flexibilizações uma traição ao legado do ex-presidente Hugo Chávez. Um dos representantes desse grupo é Aissami, um aliado de longa data do patrono bolivariano, morto em 2013. Sob Maduro, ele ganhou protagonismo e se tornou gestor do petróleo venezuelano, a galinha dos ovos de ouro do país.
“A renúncia de Aissami é a última e maior evidência dessa disputa interna de poder no chavismo”, diz Geoff Ramsey, especialista em Colômbia e Venezuela do Atlantic Council. “Ele é o responsável pela estratégia de evasão das sanções americanas. É alguém que tem muitos esqueletos no armário. Se ele for preso, isso pode ter consequências sérias para a estrutura de poder na Venezuela.”
Acusado de narcotráfico pelo governo americano, com uma recompensa de US$ 10 milhões por sua captura, Tareck Aissami ganhou o favoritismo de Maduro após o governo de Donald Trump impor pesadas sanções econômicas à venda do petróleo venezuelano, com o objetivo de pressionar pelo fim do regime.
Diante das sanções, a PDVSA, comandada pelo ministro de Energia, teve de buscar intermediários em outros países não só para exportar esse petróleo como também para comprar bens e alimentos que se tornaram escassos pela ausência de dólares e de um aparato produtivo interno. De origens sírias, Aissami intermediou contatos no Irã e na Turquia para tornar isso possível.
Foram esses contratos que entraram na mira de Delcy Rodríguez. Segundo a Bloomberg, uma auditoria interna descobriu um buraco negro financeiro na estatal petrolífera no valor de US$ 21,2 bi. Os pagamentos desaparecidos datam, na maioria, do período entre 2020 e 2022, quando a Venezuela buscou novos intermediários para ajudar a contornar as sanções dos EUA e negociar, embarcar e vender seu petróleo
O gabinete de Rodríguez foi encarregado de rastrear cargas de petróleo não quitadas. Em janeiro, a ministra nomeou um tecnocrata do setor petroquímico, Pedro Tellechea, como diretor da PDVSA. Tellechea suspendeu contratos existentes poucos dias após assumir o cargo, em janeiro. Ainda de acordo com a Bloomberg, Rodríguez se tornou a responsável de fato pela aprovação de todos os novos empreendimentos da PDVSA e assina todos os novos contratos junto com Tellechea.
Esse controle e essa supervisão recentes sobre as finanças da PDVSA provocaram tensão entre Rodríguez e El Aissami. Em uma reunião na semana passada, Delcy informou o rival sobre o início de uma investigação sobre acusações de corrupção dentro da PDVSA, de acordo com fontes a par do encontro. O ministro da Energia, então, decidiu renunciar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.