Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 22 de maio de 2023
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, refutou as críticas pessoais que tem recebido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados na condução da política monetária à frente da instituição e disse que essa “personificação” mostra falta de conhecimento em relação às regras sobre a autonomia do BC.
“A autonomia vai justamente na contramão disso”, afirmou, em seminário promovido pela Folha de São Paulo nessa segunda-feira (22) sobre os dois anos de autonomia do BC. “A personificação é falta de conhecimento sobre o processo instalado e o amadurecimento do Banco Central.”
No mesmo evento, Campos Neto comentou sobre possíveis mudanças no sistema de meta de inflação. A discussão atual é sobre o BC passar a seguir formalmente uma meta contínua para convergir a inflação, e não mais uma meta de ano a ano – hoje adotada com o ano-calendário.
O chefe da autarquia argumentou que o poder de decisão é do governo e que o Banco Central atua como “adviser”. Para ele, porém, não há um ambiente favorável para mudanças no sistema. Apesar de defender “avanços institucionais de tempos em tempos”, o presidente do BC diz que as mudanças no regime, no contexto de inflação fora da meta, poderiam gerar efeitos negativos:
“O que percebemos, historicamente falando e olhando exemplos de outros países, é que as mudanças quando são feitas para ganhar eficiência, esse ganho de eficiência é atingido de forma mais fácil quando você está em um ambiente de calmaria, com as inflação dentro da meta. Quando você tem inflação fora da meta e muda alguma coisa no sistema – não sei se vai ser o caso – mas pode haver uma interpretação de que aquilo foi feito para ganhar flexibilidade e isso historicamente nos casos que a gente analisou tem um valor esperado negativo”, diz.
No Conselho Monetário Nacional (CMN) – colegiado que trata das metas de inflação – o BC pode ser voto vencido. Na atual composição, o CMN é formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. A próxima reunião ocorrer em junho e possíveis mudanças são esperadas.
Críticas de Lula
Nas últimas semanas, Campos Neto tem centralizado as críticas por parte de Lula e aliados, que atribuem a ele eventuais prejuízos à atividade econômica brasileira, com os efeitos da restrição monetária.
No mês passado, ao fazer um balanço dos 100 dias de seu governo, Lula chegou a dizer que a taxa básica de juros no País (Selic), fixada em 13,75% ao ano pelo Copom (Comitê de Política Monetária) “é muito alta”, e que “estão brincando com o País”.
No evento dessa segunda, Campos Neto disse que o presidente “tem direito de entrar no debate sobre taxa de juros, como acontece em vários países”. Mas que depois de subir os juros em ano eleitoral, para garantir que os seguintes quatro anos de governo acontecessem em meio a uma inflação “mais comportada”, imaginou que “isso fosse ser reconhecido” pelo vencedor nas urnas.
“Houve questionamentos, em ano de eleição sempre há, mas agimos de forma autônoma”, afirmou.
Para Campos Neto, a legislação garante a autonomia do presidente do BC em relação ao governo federal e dos próprios diretores da instituição em relação a ele. E afirmou que algumas críticas vão no sentido “de não entender a regra do jogo”.
No mesmo evento, Campos Neto afirmou ainda que a projeção de crescimento do PIB de 2023 tende a se estabilizar em torno de 1,5%. As estimativas de mercado, completou, indicam que um crescimento acima de 1,6% é visto como inflacionário.