Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2015
O resultado de 20 mil divididos por 365 dias é o tempo de vida de um cantor australiano que parece tirado de um filme do Tarantino: sua voz é rouca, ele pouco sorri, raramente aparece sem um blazer escuro por cima da camisa e nunca descuida do penteado. Para completar, as músicas de Nick Cave ajudaram a estabelecer sua fama de artista sombrio, alguém que mistura catástrofes com romances, religião com crimes ou, simplesmente, usa seu jeito gótico para relatar observações sobre o cotidiano. É, portanto, um personagem sensacional para um documentário.
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Mas “Nick Cave — 20.000 dias na Terra”, de Iain Forsyth e Jane Pollard, não é um daqueles documentários que traçam linearmente a vida de um artista. Sem querer fazer uma crítica a cineastas que escolhem caminhos diferentes, o que o filme sobre Cave tem de melhor é que ele realmente se propõe a compreender o pensamento do cantor, e não apenas a contar suas histórias.
A proposta é simular um dia, o 20.000º da vida de Cave, na época em que ele se aproximava dos 55 anos (hoje tem 57). A história é guiada pelo próprio cantor, numa narração em que aparentemente pouco fala de sua trajetória passada, mas que no fundo revela muito do que realmente há de mais importante num artista: como funciona sua criação e qual a origem de sua inspiração.
Logo no início, Cave aparece sentado à frente de uma máquina de escrever e diz que cria um mundo de monstros, heróis, bons e maus sujeitos, “um mundo louco, absurdo e violento”. Daí, ele passa pelo analista; vai ao estúdio gravar canções do álbum “Push the Sky Away”, na época em produção; encontra amigos e parceiros como Warren Ellis e Kylie Minogue, e também sua mulher, a modelo Susie Bick; e até sobe ao palco. A cena em que ele se reúne com um grupo de crianças para ensaiar o coro da faixa título é simplesmente sensacional.
A câmera dos diretores é muito bem ensaiada para que não haja interação, deixando para Cave o total controle do andamento do filme. Eventualmente, algumas histórias ou imagens do passado entram em cena, mas sempre num contexto condizente com este dia de sua vida.
No fim, percebe-se que Cave interpreta ele próprio. Como o ótimo ator que sempre foi. (André Miranda/AG)
Confira trailer do filme:
Confira a galeria de fotos do filme: