Domingo, 23 de novembro de 2025
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 12 de setembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Amigo é mais que alguém da família. Amigos nós escolhemos durante a vida. Familiares aceitamos pelos vínculos genéticos. Por sorte, os parentes se tornam amigos, geralmente, também.
Há dois dias perdi um amigão e não paro de pensar nele. Um irmão! Um colega da Faculdade Católica de Medicina formado em 1973 (AD 73). Chamado Nassif Ballura Neto.
Veio de Campinas para estudar medicina conosco. Como todos nós na época, tinha dificuldades financeiras.
Mas foi prontamente amparado pelos colegas da turma. Almoçava no restaurante universitário e contava que aos domingos sempre tinha um colega disposto a convidá-lo para comer massa com galeto ou churrasco na casa da família.
Era uma pessoa educada, alegre, parceiro e brincalhão.
Invariavelmente, em todos encontros anuais após formatura, exaltava o acolhimento e a amizade que recebeu dos colegas gaúchos.
Durante os anos de faculdade éramos conhecidos, mas não tão amigos. A nossa amizade desabrochou e cresceu porque o exame para título de especialista em ortopedia ocorre em Campinas há mais de 30 anos. Cidade natal e para onde Nassif retornou pós formatura.
Todos os anos nos encontrávamos para relembrar os velhos tempos e para falar das realizações e peripécias dos colegas. Sempre nos referíamos a eles com orgulho e respeito. Reconhecíamos a maturidade da turma e a capacidade de estudar.
Nos nossos encontros gostávamos de divagar bebendo whisky. Às vezes, com a conversa alongada, a garrafa dava sinais que ia chegar ao fim.
Fazia questão de me levar até ao aeroporto. Algumas vezes fiquei aborrecido com tanta gentileza. No voo de regresso para Porto Alegre as 6 da manhã, Nassif se postava na porta do hotel as 4:30 da madrugada. Pura insanidade! Alegava que como cirurgião plástico dormia menos, tinha pouco sono e acordava cedo.
Incansável, promovia mutirão de cirurgias durante 2 semanas em Barreirinha, a 350 km de Manaus!!
Operava lábios leporinos e as fissuras palatinas dos indiozinhos que vinham de barco pelo rio.
Nassif se queixava que o apoio governamental era descontinuado e inconstante, mas aquela missão deveria ser cumprida mesmo com as custas de recursos próprios. Dizia que ser médico era uma dádiva e que naqueles dias sua realização pessoal era completa porque devolvia aos brasileirinhos uma imagem facial sem maculas ou deformidades.
Diz a letra “amigo é coisa para se guardar dentro do peito”.
Quando ele se vai deixa um buraco no coração que só pode ser preenchido com recordações boas, marcantes e prazerosas!!
Nós da AD 73 agradecemos o grande privilégio de termos vivido muitos anos contigo.
Certamente Deus já encontrou um bom lugar para teu descanso final no céu! Adeus amigo Nassif!!
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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