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Por Redação O Sul | 13 de novembro de 2023
De partidos da base do governo Lula, deputados que em tese deveriam estar atrelados aos interesses do Palácio do Planalto têm mostrado menos fidelidade ao petista em projetos relacionados à economia do que nomes emblemáticos da oposição, como o parlamentar mineiro Aécio Neves (PSDB).
Com uma base formada por 14 partidos, Lula tem enfrentado dificuldades na articulação no Congresso, já que parte dessas siglas, donas de cargos no primeiro escalão, contam com alas de oposição cristalizadas. No entanto, o ponto sensível é representado pelo PSOL, que, em média, é menos fiel até mesmo do que o PSDB. Reconhecidos opositores, os tucanos votaram com o governo em 82% dos casos, três pontos percentuais a mais que a sigla aliada.
Entre as discordâncias do PSOL com o governo até hoje, o arcabouço fiscal representou a maior crise. Na ocasião, toda a bancada, que tem entre seus nomes Sâmia Bomfim (SP), posicionou-se contra. A exceção foi Luiza Erundina (SP), que estava ausente. Até deputados que pleiteiam o apoio do presidente nas eleições municipais do ano que vem, como Guilherme Boulos (SP) e Tarcísio Motta (RJ), não aderiram ao governo.
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) afirma que o governo deve ser defendido dos ataques da extrema-direita, o que não pode ser confundido com o aval a defesa de medidas “liberais” na agenda econômica.
“A imposição do teto fiscal entrou em áreas supersensíveis, como Saúde e Educação, e não têm como dar apoio a isso. Vamos sempre estabelecer críticas e mobilizar os movimentos populares para que práticas como essa sejam revistas”, diz, acusando a pasta da Economia de ter uma ala de direita “que cuida da implantação do neoliberalismo”.
Os conflitos em torno das pautas econômicas com o governo Lula não são uma novidade e existem desde a criação do PSOL, dissidência do PT. Em 2003, por discordarem da Reforma Previdenciária no primeiro mandato de Lula, Luciana Genro, Heloísa Helena, Babá e João Fontes deixaram a sigla para dar início ao partido.
“A base do governo é enorme, e uma parte está rachada; alguns apoiando Lula e outros não. Mas nem todo mundo está com Bolsonaro ou Lula. Tem aqueles que, dependendo da pauta, do que está sendo negociado por trás, vão com um dos lados. A articulação tem sido suada, difícil, mas o governo tem conseguido aprovar suas pautas”, avalia Carolina Botelho, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
Caso da deputada Rosângela Moro (União-SP), mulher do ex-juiz federal da Lava-Jato e hoje senador Sergio Moro (PR-União). Apesar dos discursos contra o Planalto, nem sempre o voto é contrário ao governo. Rosângela por exemplo, avalizou a reforma tributária e já deixou de se posicionar sobre a reestruturação ministerial.
“Sou absolutamente uma deputada de oposição, mas, ao votar nas propostas do governo, analiso cada uma delas com base no seu potencial impacto na população. Se uma proposta se alinha com o interesse público, não hesito em apoiá-la. No entanto, o que claramente guia o governo Lula é fortalecer o seu partido”, afirmou Rosângela.
Ainda assim, PP, MDB, União Brasil, Republicanos e PSD — que, juntos, somam nove ministérios — têm 23 deputados que votaram contra o governo em 75% das ocasiões. Tratam-se de nomes como o bolsonarista Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), que no início do ano presidiu a CPI do MST, e críticos assíduos do petista, como Kim Kataguiri (União-SP) e Messias Donato (Republicanos-ES).
“Este é um governo que bloqueia bilhões de reais que eram para hospitais, educação básica, o Rio São Francisco, auxílio gás e Minha Casa Minha Vida. Por isso trabalho na Câmara para defender nosso país da calamidade para a qual Lula está nos guiando”, diz Donato sobre seus votos 100% desalinhados ao presidente, apesar de ser correligionário do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.
Entre as siglas, apenas o Novo, com três deputados, posiciona-se completamente avesso à gestão Lula. A taxa de governismo de Cidadania, Patriota, PL, Podemos, PSC e PSDB é de 75%. Entre os oposicionistas, há 39 deputados que votaram a favor ou faltaram nos dias em que o governo aprovou propostas. A maior parte deles (13) pertence ao Podemos, que é seguido por PL (10) e PSDB (9). O PL de Jair Bolsonaro soma 29% de adesão à pauta governista.