Quarta-feira, 28 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2025
Em lançamento de AI Mode, big tech afirma que tecnologia aumenta o número de pesquisas.
Foto: ReproduçãoPouco mais de um ano após o lançamento das respostas com inteligência artificial (IA) nos resultados de busca do Google, donos de sites e pesquisadores alertam para uma queda significativa na taxa de cliques nos links tradicionais. Um estudo da agência Ahrefs apontou que, quando o recurso AI Overviews está ativo, o primeiro link da pesquisa perde, em média, 34,5% dos cliques.
A análise comparou 300 mil buscas feitas em março de 2024 – antes da ativação do AI Overviews – com o mesmo período de 2025. O impacto atinge principalmente produtores de conteúdo que dependem do tráfego orgânico para gerar receita por meio de publicidade.
Diante das críticas, o Google anunciou uma nova aba chamada AI Mode, que usa modelos de linguagem para responder pesquisas de forma ainda mais aprofundada. Especialistas, no entanto, alertam que esse movimento pode intensificar as chamadas “buscas de clique zero”, em que o usuário obtém a informação sem acessar outras páginas.
A empresa afirma que a IA ajuda os usuários a descobrir mais conteúdos da web e que os cliques oriundos dos resumos são de melhor qualidade, com maior tempo de permanência nos sites. Segundo o Google, o AI Overview já alcança 1,5 bilhão de usuários mensais, com aumento de 10% nas buscas em mercados como EUA e Índia.
Outra análise, da consultoria Terakeet, mostra que páginas citadas nos resumos ganham vantagem em tráfego, enquanto as ignoradas perdem visibilidade. O Google, porém, não revela os critérios usados para incluir um link nas respostas geradas por IA.
Ferramentas como o Google Analytics não diferenciam a origem dos cliques, o que dificulta avaliar se os resumos realmente beneficiam os sites. O CEO Sundar Pichai chegou a afirmar que o recurso aumentaria os acessos, o que vai na contramão do estudo da Ahrefs.
Entidades de imprensa e especialistas em comunicação digital veem ameaça à sustentabilidade do jornalismo. A presidente da Fenaj, Samira de Castro, afirma que a prática de “self-preferencing” – priorizar respostas da própria plataforma – exige regulação urgente por concentrar ainda mais o controle da informação.
Paula Guedes, da ONG Artigo 19, lembra que em regiões como a União Europeia, o Google já é classificado como “gatekeeper”, por sua capacidade de influenciar o acesso à informação. Com os resumos de IA, esse poder tende a se intensificar.
A ANJ (Associação Nacional de Jornais) defende que conteúdos jornalísticos usados por modelos de IA só podem ser utilizados com autorização e remuneração adequada. A entidade também critica a ausência de acordos do Google com veículos de imprensa, ao contrário de concorrentes como a OpenAI.
Em nota conjunta, organizações como ANJ, Abert, Ajor, ABI e Repórteres sem Fronteiras pedem que o Cade investigue se o Google está abusando de sua posição dominante ao exibir conteúdo jornalístico sem compensação, prática já contestada em outros países.