Quarta-feira, 28 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2025
Baptista Júnior se convenceu que o maior serviço que os militares podem prestar ao País é permanecer fiéis a si mesmos
Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilEra 12 de julho de 2019 quando o Estado-Maior do Exército baixou normas sobre o uso de redes sociais pelos militares da ativa. As manifestações e as contas se haviam multiplicado, com oficiais superiores e generais aplaudindo o governo de Jair Bolsonaro e criticando a oposição. Até sargentos participavam de lives com “reivindicações”.
E entre um dos mais ativos influencers estava um brigadeiro: Carlos de Almeida Baptista Junior, então chefe de operações conjuntas do Ministério da Defesa.
Enquanto o Forte Apache tentava coibir as manifestações públicas mais nefastas da contaminação política que tomou conta dos quartéis naquele período, o brigadeiro prosseguia com suas publicações. O que o Exército procurava deter era um movimento cujo impulso decisivo havia sido o tuíte do general Villas Bôas, então comandante da Força, de 3 de abril de 2018, por meio do qual ele pressionou o STF contra a concessão de habeas corpus à Lula, então condenado no âmbito da Operação Lava Jato.
Se o chefe podia fazer, os demais sentiram-se livres a seguir seu caminho. Mesmo depois da medida, uma análise feita nas contas do então Twitter de militares seguidas por Villas Bôas e nas destes oficiais encontrou 115 integrantes da ativa que fizeram 3.427 tuítes de caráter político-partidário entre abril de 2018 e abril de 2020. As publicações estavam nos perfis mantidos por 82 integrantes das Forças Armadas, entre os quais 23 oficiais-generais – 19 generais, dois almirantes e dois brigadeiros. E lá estava mais uma vez Baptista Junior.
Em 2021, durante a crise que derrubou ao mesmo tempo os comandantes das três Forças, o pai do brigadeiro, o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista confidenciou ao coronel Lúcio Wandeck que o filho seria o novo chefe da Aeronáutica. Era natural. Desde a campanha eleitoral de 2018, o velho Baptista criara relações com Bolsonaro, sugerindo, inclusive, a recriação do Serviço Nacional de Informações (SNI).
O homem que comandara a FAB durante o governo de Fernando Henrique Cardoso pensava que a recriação do órgão, um dos símbolos do poder discricionário dos militares durante a ditadura, poderia ajudar a combater a praga da corrupção. Bolsonaro evitou se comprometer com a medida. E o desenrolar de seu governo certamente explicou que isso se devia não em razão de compromisso com a legalidade e a democracia.
Já comandante da Aeronáutica, Baptista Junior foi surpreendido por uma publicação da deputada ultrabolsonarista Bia Kicis (PL-DF), que revelou ter tido o brigadeiro como seu eleitor. Era possível que o brigadeiro tivesse sido vítima de uma indiscrição da deputada, que tornara pública uma conversa reservada de forma inadvertida. Coisas de internet. Mas como a parlamentar é neta do general Samuel Kicis, a etiqueta militar não lhe devia ser estranha.
A vida no governo foi tornando as coisas mais claras para Baptista Junior. As bandeiras de moralização da vida pública foram deixadas de lado. Escândalos se sucediam com a mesma velocidade que Bolsonaro alienava aliados e se lançava nos braços do Centrão: da rachadinha, aos pastores das barras de ouro da Educação, tudo parecia se resumir às ambições pessoais desmedidas de pessoas desqualificadas para as funções.
Foi em julho de 2022, quando viu que se avolumavam as ações do governo para tentar deslegitimar o processo eleitoral, colocando em dúvida a lisura não só das urnas eletrônicas, mas buscando por todos os meios uma falsa saída legal para a derrota que se avizinhava que o brigadeiro se lembrou de Huntington e decidiu que não seria cúmplice do pior dos crimes da República: a aspiração à tirania.
Baptista Júnior se convenceu que o maior serviço que os militares podem prestar ao País é permanecer fiéis a si mesmos, em silêncio e com coragem, à maneira militar. Diante das investidas de Bolsonaro e de seus generais palacianos contra as urnas eletrônicas, ele sabia que teria de em breve estar diante de uma hora adversa, aquela que define como cada um será conhecido na história. Esse momento chegou.
Primeiro, quando o brigadeiro disse ao general Augusto Heleno, em um voo para Brasília: “Eu e a Força Aérea, por unanimidade do Alto-Comando da Aeronáutica, não vamos apoiar qualquer ruptura neste País. Se alguém for bancar isso, saiba quais são as consequências.” Não só.
Ele repetiu o mesmo para o presidente Bolsonaro. “Eu falei com o presidente Bolsonaro: aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente.” E foi enfático com o então ministro da defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, que buscou lhe entregar a cópia de um plano para golpe.
(Marcelo Godoy/AE)