Quinta-feira, 26 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2025
O governo aprovou nessa quarta-feira (25) a elevação do percentual do etanol anidro (mais puro) na gasolina, em meio a preocupações com o efeito da instabilidade no Oriente Médio para o preço dos combustíveis. Além disso, foi autorizado o aumento da participação do biodiesel no diesel.
Segundo o governo, as estimativas da nova mistura indicam que a redução do preço da gasolina nos postos pode chegar a 20 centavos para o consumidor.
A decisão produz efeitos a partir de 1º de agosto e foi tomada pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), órgão presidido pelo ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e composto também por outros 16 ministros. Na reunião extraordinária desta quarta, houve ainda a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na gasolina, o percentual passa dos atuais 27% para 30%. Um estudo formulado pelo Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul (no estado de São Paulo) foi apresentado pelo Ministério de Minas e Energia há pouco mais de três meses e apontou a viabilidade técnica do uso do novo combustível – chamado pelo governo de E30.
Foram usados 16 veículos e 13 motocicletas nos testes. Em alguns deles (de modelo não identificado pelo ministério), foi notada diferença de desempenho com o uso do combustível –considerada não significativa.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, nada muda para a gasolina premium. Nesse caso, o percentual continua em 25% – como é hoje.
Já no diesel, o percentual de biodiesel passa de 14% para 15% – resultando em um novo combustível, chamado pelo governo de B15. Nesse caso, a medida já deveria ter entrado em vigor mas foi suspensa pelo próprio CNPE em fevereiro em meio a denúncias de fraudes e diante da preocupação de que a iniciativa poderia encarecer o preço de alimentos, já que boa parte do biodiesel vem da soja.
Após a reunião, o governo organizou um evento público para o lançamento da medida que contou com representantes do setor. Lula fez um discurso e citou o ex-presidente de Cuba Fidel Castro para dizer que não há risco no Brasil de a medida levar a falta de alimentos.
“Uma vez tive uma discussão com uma pessoa que eu mais admirava, que era o Fidel Castro. Ele era contra a gente transformar soja em óleo [diesel], sobretudo pela falta de alimento. Se fosse analisar a situação, o tamanho e a capacidade produtiva do país dele, ele tinha razão. Mas eu tinha que pensar no tamanho do meu país, na quantidade de terra do meu país e na capacidade tecnológica do meu país”, afirmou.
“Não tem nenhuma possibilidade de alguém fazer discurso de que o biocombustível compete com alimento. Se um dia acontecer isso, vocês serão os primeiros a pedir para parar, porque sabem que é preciso comer mais do que produzir óleo diesel”.
Silveira afirmou que, agora, o Brasil poderá ser exportador de gasolina e o PPI (preço de paridade de importação), política praticada pela Petrobras no passado e que fazia os preços internos seguirem o mercado internacional, pode ser substituído por um PPE (preço de paridade de exportação).
“Teremos nova redução na bomba. Isso traz impacto real na vida das pessoas. Quem trabalha por conta própria, como taxistas e motoristas de aplicativo, poderá economizar R$ 1.800 por ano”, disse. “Estamos vencendo a batalha do preço dos combustíveis para mantê-los cada vez mais baratos na bomba, e isso é fundamental para manter um círculo virtuoso da economia por meio do combate à inflação”.
O ministro de Minas e Energia também citou o combate pelo governo ao crime organizado nos combustíveis e afirmou que em breve o plano elaborado pela pasta e voltado à Política Nacional de Minerais para Energia Limpa será encaminhado ao Palácio do Planalto.
Evandro Gussi, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), fez elogios a Lula e ao ministro pelas decisões. “Não teve um embaixador do etanol como o senhor no Brasil”, afirmou Gussi no púlpito a Lula, dizendo ainda que o setor é seu “discípulo”. “E o senhor encontrou um ministro à altura do seu amor pelo etanol”, disse.
As medidas já eram discutidas antes das recentes instabilidades no Oriente Médio. Mas, nas últimas semanas, o conflito entre Israel e Irã reforçou no governo a argumentação acerca da atual pressão sobre o petróleo no mercado internacional e o possível encarecimento dos combustíveis no mercado interno. As informações são do jornal Folha de S.Paulo e do Ministério de Minas e Energia.