Quarta-feira, 23 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2025
Moraes avaliou que o advogado transformou a rodada de questionamentos em inquirição da testemunha em “tom acusatório”.
Foto: Fellipe Sampaio/STFO ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes entrou em atrito mais uma vez com o advogado Jeffrey Chiquini, que defende o ex-assessor da Presidência Filipe Martins.
Durante a audiência de oitiva das testemunhas de defesa na quarta-feira (16), Moraes interrompeu os questionamentos de Chiquini ao ex-ministro Gonçalves Dias. O ministro avaliou que o advogado transformou a rodada de questionamentos em inquirição da testemunha em “tom acusatório”.
Ao repreender o advogado, o ministro afirmou que se tratavam de acusações contra autoridade. Moraes disse que Chiquini teve a mesma postura nas oitivas realizadas na última terça (15), quando ele teria feito insinuações da conduta do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O ministro afirmou ter enviado ofício a Tarcísio para relatar o episódio. Neste momento, Chiquini questionou Moraes sobre o motivo de não querer que G.Dias esclarecesse as suas se recebeu informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas vésperas do 8 de Janeiro.
Moraes respondeu que as informações já haviam sido prestadas e, diante da insistência, silenciou o microfone do advogado. As oitivas de testemunhas são realizadas por videoconferência.
“O senhor cassou a minha palavra?”, perguntou Chiquini. “Cassei a palavra”, respondeu o ministro ao passar a fala para o advogado Eduardo Kuntz, do réu Marcelo Câmara. Chiquini levou as mãos ao rosto e demonstrou contrariedade com a decisão do ministro.
O ministro e o advogado já tinham entrado em atrito na última segunda-feira (14). O magistrado chegou a dizer para Chiquini se calar. “Doutor, enquanto eu falo o senhor fica quieto“, afirmou Moraes.
Chiquini ainda foi repreendido por Moraes nesta quarta-feira ao se referir aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro como vândalos e fazer perguntas repetidas sobre esse teor a G.Dias. “A testemunha já respondeu, doutor. Quando os golpistas chegaram, porque não são vândalos, são golpistas condenados”, disse Moraes.
Núcleo 4
Enquanto Moraes conduzia as audiências do núcleo 2 desta quarta-feira, a juíza auxiliar Luciana Sorrentino foi a responsável pelos depoimentos de testemunhas do núcleo 4. Esse grupo é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ser o responsável por disseminar informações falsas sobre o processo eleitoral.
São réus neste núcleo Ailton Moraes Barros (ex-major do Exército); Ângelo Denicoli, (major da reserva do Exército); Giancarlo Rodrigues (subtenente do Exército); Guilherme Almeida (tenente-coronel do Exército); Reginaldo Abreu, (coronel do Exército); Marcelo Bormevet (agente da Polícia Federal); e Carlos Cesar Moretzsohn Rocha (presidente do Instituto Voto Legal).
As testemunhas foram questionadas, entre outras coisas, sobre detalhes técnicos do uso do FirstMile, sistema de monitoramento usado indevidamente por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, e o relatório de fiscalização do processo eleitoral elaborado pelas Forças Armadas a convite do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Luiz Gustavo da Silva Mota, arrolado como testemunha de Bormevet, por exemplo, afirmou que os computadores com acesso ao FirstMile não saíram do Departamento de Operações de Inteligência (Doint) e que Giancarlo Rodrigues, seu colega no departamento, não levou acesso à ferramenta quando foi transferido ao CIN (Centro de Inteligência Nacional).
A Polícia Federal aponta que Rodrigues teria cumprido ordens de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio e à época diretor-geral da Abin, para fazer espionagem ilegal. O CIN é suspeito de integrar a chamada “Abin paralela” e operar a ferramenta First Mile para monitorar ilegalmente a localização de adversários e desafetos do governo Bolsonaro, além de pessoas ligadas à investigações contra o ex-presidente e seus filhos.
“Como a gente ficou muito bom em OSINT (inteligência em fontes), começaram a pedir para o Doint fazer muito background check de pessoas que iam (trabalhar) para o governo, que faziam postagens em redes sociais contra o governo, e depois nos disseram que essa atividade passaria para o CIN”, respondeu a testemunha sobre a transferência de Rodrigues do Doint para o CIN.
(Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)