Sábado, 04 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de outubro de 2025
O Brasil ultrapassou a linha dos mais de 100 casos, entre confirmados e investigados, de intoxicação por metanol. A informação foi divulgada pelo Ministério da Saúde na tarde dessa sexta-feira (3), por meio de balanço atualizado sobre a situação.
Do total de 113 notificações por esse tipo de intoxicação, 101 são em São Paulo (11 confirmados e 90 em investigação), 6 casos em investigação em Pernambuco, 2 em investigação na Bahia e no Distrito Federal, e 1 caso está sendo investigado no Paraná e Mato Grosso do Sul.
Dessas notificações, 12 são de óbitos. Um óbito confirmado no Estado de São Paulo e 11 estão em análise (8 em São, 1 em Pernambuco, 1 na Bahia e 1 no Mato Grosso do Sul).
A intoxicação por metanol, uma substância altamente tóxica, costuma atingir pessoas socialmente desfavorecidas que, por conta de vício ou outros motivos, acabam ingerindo combustível que contém a substância em sua formulação.
Mas esta onda de casos acontece por meio da ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas e vem sendo tratada como uma situação “fora da curva” por autoridades e especialistas.
Por conta da associação com a bebida alcoólica, o governo de São Paulo tem interditado bares e estabelecimentos, além de efetuado prisões durante operações contra suspeitos de fraudarem produtos como vodca, whisky e gin.
A polícia de São Paulo trabalha também com a hipótese de que as bebidas estejam sendo contaminadas com metanol usado para a higienização das garrafas.
“Até agora, 10 estabelecimentos foram interditados após fiscalização e 30 pessoas foram presas ao longo deste ano. Somente nesta semana foram apreendidas 4.500 garrafas”, informou o governo do Estado de São Paulo, por meio de nota.
O Ministério Público Federal (MPF) instaurou uma investigação para apurar os casos relacionados à possível adulteração de bebidas alcoólicas e abriu um procedimento administrativo para monitorar o caso de intoxicação por metanol em todo país. A
A medida vai acompanhar as ações voltadas para lidar com a crise. Até o momento, o MPF já pediu informações sobre o caso para o Ministério da Saúde, a Anvisa, o Ministério da Agricultura e Pecuária e a Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Antídoto
O Ministério da Saúde informou que adquiriu 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico, antídoto para a intoxicação por metanol, e que está comprando 150 mil ampolas para garantir o estoque do Sistema Único de Saúde (SUS). Este número pode realizar até 5 mil tratamentos.
A pasta também afirma que busca ter acesso a outro antidoto, o fomezipol, por meio da doação de empresas na Índia, Estados Unidos e Portugal, e através de uma linha de crédito do Fundo Estratégico da Organização Pan-Americana da Saúde, que pode garantir a aquisição de 1 mil unidades do medicamento.
Os recentes casos investigados de intoxicação por metanol em São Paulo ocorreram após o consumo de bebidas alcoólicas destiladas, como gim, vodca e uísque. Mas, especialistas alertam que o biocombustível pode ser usado para adulterar também cerveja e vinho. “Para o adulterador não há limites, desde que haja lucro”, afirma Rodrigo Ramos Catharino, farmacêutico, doutor em Ciência de Alimentos e professor da Unicamp.
Integrante da comissão técnica do Conselho Regional de Química de São Paulo, a química Glauce Guimarães Pereira reforça que na cerveja, o teor alcoólico é baixo (4 %-6 %) e com maior complexidade aromática. Isso significa que qualquer desvio químico é mais fácil de notar.” Para ela, é uma questão de eficiência na adulteração: “Adulterar cerveja sem ser perceptível só renderia uma quantidade muito pequena”.
O farmacêutico-bioquímico do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unesp, em Botucatu, Alaor Aparecido Almeida aponta que o metanol é adicionado para aumentar o volume da bebida.
“Ele é usado para vender mais com um preço menor”, diz. “O metanol costuma ser mais barato que o álcool, porque é mais fácil de produzi-lo. Eles escolhem geralmente destilados justamente por serem mais caros. Como a cerveja é relativamente barata, a chance é menor de ser adulterada”, avalia. (Com informações de O Estado de S. Paulo)