Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2025
Em um mês e meio de trabalhos, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem mirado empresários e advogados suspeitos de serem os articuladores dos descontos associativos ilegais e poupado políticos.
Uma análise feita pelo Estadão, com auxílio da ferramenta Pinpoint, do Google, de cerca de dois mil requerimentos protocolados na comissão até o último dia 26 mostra que o principal alvo dos parlamentares até aqui é o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
Ele prestou depoimento em que negou envolvimento nas fraudes. O início da sessão foi marcado por confusão após o relator da CPMI, o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), dizer que o depoente era o responsável pelo maior roubo de aposentados da história. O advogado do “Careca” interveio, e um bate-boca generalizado com parlamentares levou à suspensão da sessão.
Durante o depoimento, o “Careca” afirmou ser um empresário de sucesso e disse ter como provar os serviços prestados às associações. Ele disse que falhas nos mecanismos de registro de associados, o que, em sua avaliação, pode ter facilitado irregularidades.
O ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto é o segundo alvo preferido dos integrantes da CPMI até agora, mas ainda não foi convocado.
O ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi – que caiu após a Operação Sem Desconto – foi a única figura ligada ao Palácio do Planalto que depôs à comissão até o momento. As participações do atual chefe da pasta, Wolney Queiroz, e do advogado-geral da União, Jorge Messias, já estão confirmadas, faltando apenas a definição de datas para o comparecimento deles.
Parlamentares sob suspeita de envolvimento com as fraudes no INSS não foram convocados até agora. Dois nomes foram citados atrelados às investigações: o do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e o do deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG).
Sócio
Weverton mantém como administrador de uma de suas empresas Rodrigo Martins Correa, que figura como sócio da Voga, firma que fazia a contabilidade dos negócios do “Careca do INSS”, inclusive das offshores.
A ligação da Voga com o “Careca” foi confirmada por Milton Salvador, apontado como um dos operadores financeiros do esquema. Ele trabalhou como administrador financeiro da empresa que, de acordo com as investigações, era utilizada para receber recursos das associações e entidades e para pagar propinas a empresas de familiares de servidores do INSS.
Já Euclydes Pettersen vendeu um avião a uma organização não governamental (ONG) que serve como braço da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), uma das entidades investigadas por proceder descontos ilegais em aposentadorias e pensões.
Nem Weverton nem Pettersen foram convocados pela CPMI do INSS, apesar de terem sido protocolados requerimentos com pedidos para que compareçam ao colegiado.
Em deliberação realizada minutos antes do depoimento do “Careca”, os parlamentares votaram contra a convocação de Weverton e de seu ex-assessor Gustavo Gaspar. O auxiliar fez uma procuração em que concedeu “amplos poderes” a Rubens Oliveira Costa, apontado como um dos operadores financeiros do esquema.
O veto à convocação foi articulado pela base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A principal justificativa foi a de que Gustavo Gaspar se comprometeu a fornecer, voluntariamente, seus dados fiscais sem a necessidade de quebra de sigilo.
Na cúpula da CPMI, a leitura é a de que é preciso fechar o cerco em torno de agentes políticos envolvidos antes de convocá-los. Isso requer a aprovação do maior número possível de medidas contra os investigados, como quebras de sigilo e requerimentos de informação. Assim, quando essas figuras forem depor, haverá mais subsídios para questioná-las, avaliam os parlamentares. (Com informações de O Estado de S. Paulo)