Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2025
A taxa de mortalidade por câncer colorretal no Brasil subiu 47% em duas décadas, passando de 5,42 óbitos por 100 mil habitantes em 2003 para 7,97 em 2023, ano da estatística mais recente.
O aumento foi maior entre os homens: o índice saltou 61% na população masculina, saindo de 5,63 para 9,06 no período. Já a taxa de mortalidade entre mulheres cresceu 36%, passando de 5,23 para 7,11 óbitos por 100 mil habitantes.
No período de 20 anos analisado, 331.571 brasileiros perderam a vida em decorrência desse tipo de câncer. O número de óbitos passou de 9.090 em 2003 para 24.773 em 2023. Até 2020, as mulheres somavam o maior número de vítimas, mas isso mudou a partir de 2021.
Os dados foram reunidos pelo Estadão e têm como base o Atlas de Mortalidade, portal de estatísticas sobre a doença no Brasil administrado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), e o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Foram considerados os tumores localizados no intestino grosso até o canal anal, que correspondem ao colorretal, de acordo com a classificação internacional de doenças (CID-10).
Entre as hipóteses listadas por especialistas para a alta de mortes estão o aumento da prevalência de doenças crônicas que são fatores de risco para o câncer colorretal, como a obesidade, e o avanço de hábitos de vida pouco saudáveis, como dieta inadequada, sedentarismo e consumo de álcool. O envelhecimento populacional também ajuda a explicar o crescimento de óbitos, já que a idade mais avançada é um dos principais fatores de risco para o aparecimento de tumores.
De acordo com especialistas, a maior prevalência de algumas condições de saúde entre os homens, como sobrepeso, tabagismo e alcoolismo, ajuda a explicar a maior mortalidade pela doença entre pacientes do sexo masculino. Além disso, os homens são menos atentos a medidas de prevenção e resistem mais a procurar ajuda especializada quando apresentam algum sintoma, dizem os médicos. “A mulher tem melhor prognóstico porque é mais preocupada, se protege mais, faz a prevenção”, destaca Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística do Câncer no A.C. Camargo Cancer Center.
“Elas são mais proativas. Quando manifestam os primeiros sintomas, logo procuram o médico e, consequentemente, o diagnóstico é feito mais precocemente, aumentando as chances de cura. Os homens são mais displicentes, persistem com sintomas por muito tempo até procurar um médico e, quando procuram, o diagnóstico é de uma doença mais avançada”, afirma Hélio Moreira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e coordenador da campanha Março Azul 2025 pela SBCP, iniciativa para prevenção do câncer de intestino.
Moreira, que também é cirurgião, aponta ainda como hipótese para maior mortalidade entre os homens a complexidade da cirurgia para tratamento de câncer de reto entre os pacientes do sexo masculino. “É um procedimento mais difícil porque os homens têm uma pelve mais profunda, mais estreita, com campo cirúrgico mais difícil de evidenciar estruturas. Claro que o avanço das técnicas minimamente invasivas, inclusive a robótica, diminuiu a dificuldade, mas, mesmo assim, ainda é mais complexa do que nas mulheres”, comenta.
De fato, entre os quatro subtipos de câncer colorretal (cólon, reto, junção retossigmoide e ânus/canal anal), o tumor de reto foi o que teve o maior predomínio de mortes de homens em 2023, com 54% dos óbitos entre o sexo masculino.
A pandemia de covid-19, dizem os especialistas, dificultou ainda mais o diagnóstico precoce. Nos piores anos do coronavírus (2020 e 2021), muitos exames deixaram de ser feitos e, com isso, os diagnósticos demoraram mais a acontecer.
Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da USP, publicado no periódico científico BMC Cancer, mostrou que, entre 2020 e 2022, as mortes por câncer ficaram abaixo do esperado, em parte porque pacientes oncológicos foram mais vulneráveis à covid-19, aumentando os óbitos pelo vírus.
Em 2023, no entanto, o número de mortes por câncer colorretal cresceu quase 10,9% em comparação com os dados de 2022. A variação é muito superior ao crescimento médio dos 19 anos anteriores, que ficou em 4,9%, o que mostra que o adiamento de exames e consultas de rotina pode ter levado a uma alta de diagnósticos de cânceres mais avançados.
Mesmo com os avanços no tratamento do câncer de intestino obtido nas últimas décadas, o diagnóstico tardio da doença pode dificultar ou inviabilizar a cura. “O tratamento, nesses quadros, em tese, não tem caráter curativo”, explica Flora Lino, oncologista e pesquisadora do Inca.
Em alguns casos, porém, mesmo que a cura não seja possível, pacientes com doença avançada podem viver anos com o tumor sob controle.
Mas a prevenção e o diagnóstico precoce continuam sendo o melhor caminho.
A Sociedade Brasileira de Coloproctologia recomenda que todas as pessoas com mais de 45 anos realizem o rastreamento da doença por meio de exames como colonoscopia ou exame de sangue oculto nas fezes. O SUS ainda não conta com um programa de rastreamento estruturado para todos os pacientes nessa faixa etária, mas a iniciativa vem sendo estudada pelo ministério. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.