Sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2025
Cientistas alcançaram um marco em uma iniciativa para mapear como os diversos tipos de células cerebrais surgem e amadurecem desde os estágios embrionários até a idade adulta. O resultado desse trabalho pode levar ao surgimento de novas formas de abordar certas condições, como autismo e esquizofrenia.
Os pesquisadores fizeram um primeiro esboço dos atlas do cérebro humano em desenvolvimento e do cérebro de mamíferos em desenvolvimento. Os achados foram detalhados no início deste mês em uma coleção de estudos publicados na revista Nature.
A pesquisa concentrou-se em células cerebrais humanas e de camundongos – há ainda trabalhos voltados a células cerebrais de macacos. No esboço inicial, mapeou-se o desenvolvimento de diferentes tipos de células cerebrais, rastreando como nascem, diferenciam-se e amadurecem em vários tipos com funções únicas. Também foi possível acompanhar como os genes são ativados ou desativados nessas células ao longo do tempo.
Houve a identificação de genes-chave que controlam processos cerebrais e a descoberta de semelhanças no desenvolvimento das células cerebrais entre cérebros humanos e de outros animais, bem como alguns aspectos únicos do cérebro humano, incluindo a identificação de tipos celulares anteriormente desconhecidos.
A pesquisa faz parte da Rede de Atlas Celular da Iniciativa Brain (Bican), dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos EUA, uma colaboração científica internacional para criar um atlas abrangente do cérebro humano.
“Nosso cérebro possui milhares de tipos de células com extraordinária diversidade em suas propriedades e funções celulares, e esses diversos tipos celulares trabalham juntos para gerar uma variedade de comportamentos, emoções e cognição”, disse a neurocientista Hongkui Zeng, diretora de ciência cerebral no Instituto Allen em Seattle. Ela é líder de dois dos estudos que saíram.
Pesquisadores encontraram mais de 5.000 tipos de células no cérebro de camundongos. Acredita-se que haja pelo menos essa quantidade no cérebro humano.
“O cérebro em desenvolvimento é uma estrutura incrivelmente enigmática – difícil de acessar, formado por muitos tipos distintos de células e muda rapidamente. Embora conhecêssemos as grandes mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento cerebral, agora temos uma compreensão muito mais detalhada das partes do cérebro em desenvolvimento graças a este conjunto de atlas”, disse a neurocientista Aparna Bhaduri, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, também envolvida na pesquisa.
O estudo promete importantes aplicações práticas.
“Primeiro, ao estudar e comparar o desenvolvimento cerebral em humanos e outros animais, compreenderemos melhor a especialização humana e de onde vem nossa inteligência única. Segundo, ao entender o desenvolvimento cerebral, teremos mais informações para estudar quais mudanças estão acontecendo em cérebros doentes – quando e onde – tanto em tecidos humanos doentes quanto em modelos animais de doenças”, explicou Zeng.
Ao obter esse conhecimento, os cientistas esperam alcançar terapias genéticas e celulares mais precisas para uma variedade de doenças humanas, de acordo com Zeng. A esperança é que as descobertas proporcionem uma compreensão mais profunda do autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, esquizofrenia e outras condições conhecidas por se manifestarem durante o desenvolvimento cerebral.
As regiões cerebrais para as quais os pesquisadores criaram atlas de desenvolvimento de tipos celulares incluíram o neocórtex, que é a parte da camada mais externa do cérebro onde se origina a função cognitiva superior, e o hipotálamo, uma pequena estrutura localizada nas profundezas do cérebro que ajuda a regular a temperatura corporal, pressão arterial, humor, sono, desejo sexual, fome e sede.
Os pesquisadores identificaram alguns aspectos únicos do cérebro humano. Um exemplo foi o processo prolongado de diferenciação nos tipos de células corticais devido ao longo período de desenvolvimento do cérebro humano, desde o feto até a adolescência, em comparação com o cronograma de desenvolvimento mais rápido nos animais.
Entre os tipos de células cerebrais recém-identificados estavam alguns no neocórtex e na região do estriado, que controla o movimento e certas outras funções.
Há mais trabalho pela frente.
“O objetivo é, em última análise, entender não apenas quais são as partes do cérebro em desenvolvimento, mas descrever o que acontece em distúrbios do neurodesenvolvimento e neuropsiquiátricos que desenvolvem vulnerabilidade durante o desenvolvimento”, afirmou Bhaduri.
“Isso também é relevante para câncer cerebral, que meu laboratório também estuda, pois durante o câncer cerebral essas partes do desenvolvimento reaparecem. Levará tempo para entender completamente e tratar todos esses distúrbios. Mas esse conjunto de artigos é um bom avanço”, acrescentou a neurocientista. As informações são da agência de notícias Reuters.