Quarta-feira, 03 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2025
Países-membros da União Europeia e deputados do Parlamento Europeu anunciaram nesta quarta-feira que chegaram a um acordo para proibir importações de gás proveniente da Rússia a partir de 2027, numa medida que aprofunda ainda mais a divisão entre o bloco europeu e Moscou. O anúncio do chamado plano RePowerEU ocorre um dia após o líder russo, Vladimir Putin, fazer declarações agressivas contra Bruxelas em meio às negociações de um plano de paz para a Ucrânia, afirmando que se a Europa quiser guerra contra a Rússia, o país estará “pronto”.
— É o amanhecer de uma nova era, a da independência energética total da Europa em relação à Rússia — declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao anunciar o acordo.
A Europa reduziu pela metade as compras de gás russo desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022. Apesar disso, Moscou ainda é responsável por um quinto das importações do combustível do bloco. Em se tratando apenas de gás natural liquefeito (GNL), a Rússia é a segunda maior fornecedora da UE, sendo responsável por 15% do total, atrás apenas dos EUA — em um negócio que varia entre 500 milhões e 700 milhões de euros (R$ 3,09 bilhões a R$ 4,34 bilhões no câmbio atual) por mês.
“Nós conseguimos: A Europa vai cortar o fornecimento de gás russo para sempre”, escreveu o comissário europeu de Energia, Dan Jorgensen, em uma publicação no X. — Estamos enviando uma mensagem clara à Rússia: a Europa nunca mais permitirá que seu fornecimento de energia seja usado como arma.
A medida foi proposta em junho, com o objetivo de endereçar os riscos à segurança energética do bloco desde a crise desencadeada pela agressão militar russa à ucrânia, e as subsequentes restrições de Moscou sobre o gás. As negociações internas enfrentaram discordâncias, com o Parlamento Europeu pressionando por uma proibição mais rápida, enquanto os Estados-membros defendiam um prazo mais alargado para aplicar a medida.
O acordo encaminhado, que ainda precisa ser formalmente aprovado pelos países-membros e pelo Parlamento Europeu, estabelece uma eliminação gradual do gás russo, a partir da proibição de novas compras do início do próximo ano, com isenções para contratos existentes. Um cronograma foi pré-estabelecido, diferenciando o tipo de gás e os contratos de fornecimento vigentes.
Para o GNL, contratos de curto prazo fechados antes de 17 de junho de 2025 serão proibidos a partir de 25 de abril de 2026, data em que entram em vigor as sanções da UE às entregas marítimas. Para os contratos de longo prazo de GNL, a proibição passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2027.
No caso de gás transportado por gasoduto, os prazos também são diferenciados, a depender se o acordo seria de curto ou longo prazo. Para contratos de curto prazo, a proibição vale desde 17 de junho de 2026, enquanto os contratos de longo prazo serão proibidos a partir de 30 de setembro de 2027, desde que as reservas sejam suficientes — indo no mais tardar até 1º de novembro do mesmo ano. As empresas europeias poderão alegar motivo de “força maior” para justificar legalmente as quebras de contratos, mencionando a proibição de importação decidida pela UE.
A medida provocou uma repercussão imediata por parte do Kremlin, que criticou a decisão da UE. Em uma coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, o principal porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou que a Europa estaria se enfraquecendo ao cortar vínculos com a Rússia.
— [A proibição ao gás russo] significa que a Europa está condenando a si mesmo a fontes de energia muito mais caras — afirmou Peskov. — Isso vai apenas acelerar o processo da economia europeia perder seu potencial de liderança.
A medida não agradou a todos os países europeus. Hungria e Eslováquia, cujos governos mantém abertamente discursos pró-Rússia, anunciaram que vão contestar o plano da UE, prometendo levar o caso ao Tribunal de Justiça da União Europeia. Representantes dos países alegam que a medida afeta a segurança energética de suas respectivas nações.
Analistas afirmam que reforçar a dependência do fornecimento de gás russo seria um erro para toda a região. Em entrevista à agência de notícias Bloomberg, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol,
— A Rússia como principal fornecedora de energia na Europa, essa história acabou, esse capítulo está encerrado — disse. (Com AFP e Bloomberg). Com informações do portal O Globo.