Segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de junho de 2015
A polícia norte-americana descobriu um blog em que Dylann Storm Roof, autor do massacre de nove pessoas negras em uma igreja em Charleston, na Carolina do Sul (Estados Unidos), faz elogios à suposta supremacia branca. Na página, com 34 fotos do assassino em situações de racismo, estão textos anunciando que “alguém tinha que fazer alguma coisa” para conter os negros na região, já que não havia mais a Ku Klux Klan (organização racista norte-americana). Até o Brasil, considerado por ele um país “hispânico”, é “país inimigo.”
“Escolhi Charleston porque é a cidade mais histórica do meu Estado e já teve a maior proporção de negros no país”, diz o texto atribuído ao jovem, que na noite de quarta-feira entrou na igreja da cidade, matou nove negros que participavam de um grupo de estudo da Bíblia e foi preso. “Não temos ninguém fazendo nada, a não ser falar na internet. Alguém tinha que ter a bravura de fazer algo.” Policiais confirmaram que as ideias expostas no site se relacionam com o que Roof falava a amigos.
O blog tem ainda dezenas de fotos do assassino, entre elas uma em que ele posa ao lado de escravos de cera numa fazenda do Sul dos Estados Unidos. Em outra, Roof posa com uma bandeira dos Estados Confederados, que defendiam a escravidão e perderam a guerra civil norte-americana no século 19.
O blog foi registrado na Rússia, segundo o FBI, com um nome de fantasia – thelastrhodesian, que significa o último rodésio, país do Sul da África que praticava a segregação racial e o racismo. A prática é considerada comum por quem quer criar um blog e esconder a origem. Hackers foram os responsáveis por identificar que o site estava em nome de Roof.
O Brasil também é citado como um dos países inimigos do jovem. Em seu manifesto, ele diz que “negros têm QI inferior” e que há hispânicos bons e ruins. “Os programas e as propagandas nas TVs hispânicas têm até mais brancos que os nossos. Eles respeitam a beleza branca. A elite deles é branca”, disse, para completar: “Tem bom sangue branco que vale a pena ser poupado no Uruguai, Argentina, Chile e até mesmo no Brasil. Ainda assim, eles são nossos inimigos.”
No sábado, a igreja metodista Emanuel, na calorenta e turística Charleston, foi palco de diversas manifestações de solidariedade aos familiares dos mortos. Centenas de pessoas depositaram coroas de flores na porta da igreja, enquanto outros rezavam em memória das vítimas.
Lágrimas
A igreja metodista Emanuel recebeu na manhã desse domingo sua primeira cerimônia religiosa depois do ataque. A celebração, que prestou homenagens aos mortos, teve orações e hinos religiosos. Alguns dos cerca de 400 fiéis presentes derramaram lágrimas ao ouvir os primeiros acordes do órgão. Sinos foram tocados para lembrar as vítimas.
Bandeira
Ícone favorito dos defensores da escravidão e da segregação racial, a bandeira da Confederação sulista norte-americana foi a única bandeira oficial na capital da Carolina do Sul, Columbia, que não ficou a meio mastro em homenagem às vítimas. Por medo de que seja arrancada, ela fica no topo de um monumento aos mortos na Guerra de Secessão, protegida por uma grade e por policiais.
Os Estados Confederados do Sul quiseram se separar dos EUA para manter o regime escravocrata, causando uma guerra entre 1861 e 1865. Eles perderam a guerra, mas a bandeira da cruz sulista continuou tremulando em casas, associações e nas milícias racistas como a KKK. Até que, em 1962, no auge da batalha por direitos iguais para os negros, o governo segregacionista da Carolina do Sul decidiu pôr a bandeira confederada no topo do Capitólio, com apoio da maioria da Assembleia local.
A população negra fez seguidos protestos contra essa bandeira, até que em 2000 foi alcançado um acordo. A bandeira sairia do Capitólio, mas seria instalada na praça em frente, a principal de Columbia, em um monumento aos mortos na guerra. (AD e Raul Juste Lores/Folhapress)