Segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de setembro de 2018
O presidente Michel Temer divulgou um vídeo em sua conta no Twitter, na noite de quarta-feira (5), para criticar o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Mostrando-se irritado, o presidente reclamou das críticas do programa eleitoral do tucano às áreas de Educação, Saúde, Indústria e Comércio e Trabalho de seu governo. Fez questão de lembrar a Alckmin de que os partidos que comandaram essas áreas – DEM, PP, PRB e PTB, respectivamente – apoiam a candidatura do tucano.
”E, se você vier a ganhar a eleição, essa base será sua base governamental.” Ainda deu tempo, nos quase dois minutos de vídeo, de jogar na cara de Alckmin que ele teve seu apoio quando candidato a governador e a presidente. Mas, naquela época, achava que ele ”era diferente”. Após a repercussão na imprensa e nas redes sociais, Temer postou novo vídeo, na manhã desta quinta, para lembrar Alckmin de que ambos não têm em comum apenas o apoio dos partidos do ”Centrão”. Mas que o PSDB foi base de seu governo. E citou seus ex-ministros José Serra (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades) E, ao falar do tucano Antonio Imbassahy, que substituiu Geddel Vieira Lima como ministro-chefe da Secretaria de Governo, foi direto: ”Levei o PSDB para dentro do Palácio do Planalto”.
Na reta final de seu governo, Temer tem adotado a política de não deixar críticas de figuras públicas sem resposta, como a que deu a Caetano Veloso. Mas essa dupla foi diferente. Político tem grande capacidade de deglutir sapos. Mas traição é especialmente indigesta. E Temer se vê como traído nessa história. Nas votações tidas como prioritárias pelo governo Temer no Congresso Nacional, o PSDB foi – em média – o partido mais fiel a Temer, com 83,5% dos votos favoráveis, seguido pelo DEM, com 80,7%, e pelo próprio MDB do presidente, com 78,9%, segundo levantamento de Bernardo Caram, do jornal “Folha de S.Paulo, publicado em maio.
A fidelidade certamente não é por conta do amor aos poemas de ”Anônima Intimidade”, escrito pelo ocupante do Palácio do Planalto, mas por ele ter levado a cabo a agenda de reformas liberalizantes defendidas pelo PSDB – que seriam rechaçadas pela população se apresentadas em um processo eleitoral, como agora. Tanto que os tucanos participaram ativamente do seu governo e apenas desembarcaram quando o calendário eleitoral se aproximou.
Entre as reformas, estão a PEC do Teto dos Gastos (que limitou, por 20 anos, investimentos em áreas como educação e saúde), a Lei da Terceirização Ampla e a Reforma Trabalhista. Com a corda no pescoço da Lava-Jato, Michel Temer dependia do apoio do PSDB e do empresariado que o partido representa para permanecer no poder. E sabia que sua melhor chance era mostrar-se capaz de entregar essas encomendas, uma vez que não havia consenso quanto a outra pessoa que pudesse o substitui-lo para executar a tarefa no curto prazo.
A manutenção de Michel Temer e de seu grupo político no poder acabou tendo um preço alto à nação. Tanto no processo de aprovação das referidas reformas, quando nas votações para se salvar nas duas denúncias criminais encaminhadas pelo Supremo Tribunal Federal para análise dos deputados federais. Um mercado de votos foi estabelecido – e o pagamento feito com recursos públicos na forma de dívidas perdoadas e impostos reduzidos.
Temer, com o discurso irônico desta quarta e quinta, acusa Geraldo Alckmin de ataca-lo, apesar de compartilharem dos mesmos ”amigos” (o Centrão) e dos tucanos terem sido parte de sua base aliada. Em suma, reclama que o PSDB cospe no prato que comeu e se fartou.