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Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2018
Às cinco da tarde do último dia 20 de abril, atletas e celebridades se reuniram para a inauguração da clínica do especialista em medicina esportiva Márcio Tannure, chefe do departamento médico do Flamengo, no Rio de Janeiro. Entre os convidados, o meia Diego, o ex-jogador Zico e o sambista Dudu Nobre.
Um dos destaques da nova clínica era o equipamento de eletroestimulação muscular e, para mostrar como ele funciona, estava ali a personal trainer Nathalia de Melo Queiroz, representando a equipe de Chico Salgado, treinador de celebridades. A mesma “Nat Queiroz” aparece em fotos publicadas em redes sociais por artistas como Bruno Gagliasso e Bruna Marquezine.
Entre dezembro de 2016 e outubro deste ano ela era secretária parlamentar lotada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. A informação de que Nat atuava como personal trainer ao mesmo tempo em que estava lotada nos gabinetes foi divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
O nome de Nathalia se tornou público após ela aparecer no relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que apontou uma movimentação atípica na conta do pai dela, Fabrício José de Queiroz. Fabrício foi motorista do gabinete de Flávio Bolsonaro até o último mês de outubro.
De acordo com o relatório, Nathalia, que também trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro, tinha uma renda mensal de R$ 10.502,00 e transferiu, no intervalo de 13 meses, R$ 84.110 para uma conta do pai. As informações do Antagonista e da Folha de São Paulo foram confirmadas pelo blog, que obteve mais detalhes.
Em abril, mês da inauguração da clínica, ela ocupava no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados um posto nível “SP 20”, o que lhe garantia uma renda bruta mensal de R$ 10.088, com rendimentos líquidos de R$ 7.733.
A função exige pelo menos 40 horas semanais de trabalho, atuando em questões como redação de correspondência, discurso e pareceres do parlamentar, serviços de secretaria e datilográficos, pesquisas e “atividades fins inerentes ao respectivo gabinete”. O trabalho pode ser feito no estado de onde vem o parlamentar, mas sua frequência é atestada pelo gabinete.
Explicações
Em recente entrevista coletiva, o presidente eleito foi perguntado sobre a função de Nathalia no gabinete e reagiu com irritação. “Ah, pelo amor de Deus! Pergunta para o chefe de gabinete. Eu tenho 15 funcionários comigo”, alegou na ocasião.
Clientes e empregadores da personal trainer ouvidos pela imprensa no Rio de Janeiro disseram não saber que ela ocupava um cargo no gabinete. Alguns se mostraram chocados com a informação. Uma cliente que pediu para não ser identificada confirmou ter sido atendida por Nathalia em horário comercial durante algum tempo em 2017 – ela já era secretária parlamentar de Jair Bolsonaro naquele ano.
Os atendimentos ocorriam entre 8h e 10h, mesmo em dias úteis. Há fotos de Nathalia treinando com clientes no calçadão da praia em redes sociais. Recentemente, Nathalia apagou seu perfil no Instagram. A personal trainer também aparece em vídeos do aplicativo BTFit, da academia Bodytech, com instruções visuais para exercícios físicos.
De acordo com Bruno Franco, executivo do BTFit, “Nathalia Queiroz foi “uma figurante contratada pela produtora que atendia ao aplicativo” e as participações dela foram esporádicas em nossas aulas. Ratificando, ela teve a participação efetivada nos vídeos institucionais através da produtora contratada para realizar as filmagens”. Na época em que o vídeo foi publicado, Nathalia ainda era lotada no gabinete de Flavio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio.
A Bodytech também confirmou que, entre 2011 e 2012, Nathalia trabalhou como recepcionista em uma das unidades da academia no Rio de Janeiro. Na época, ela já estava lotada no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Defesa
Em nota, a assessoria de Flávio Bolsonaro afirmou que não há “qualquer ilegalidade ou irregularidade” na atuação de Nathalia Queiroz em seu gabinete: “Ela foi nomeada no gabinete do deputado Flavio Bolsonaro durante o período de 12 de agosto de 2011 a 13 de dezembro de 2016. A descentralização de gabinetes e funcionários sempre foi permitida mediante a aplicação subsidiária de ato da Câmara dos Deputados e, posteriormente, por Ato da Mesa Diretora da própria Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro”.