Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2019
A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de 19 inquéritos para investigar autoridades com foro privilegiado delatadas na Operação Carne Fraca. As investigações foram autorizadas pela ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, e têm como base a delação premiada do ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho.
A Carne Fraca investiga um esquema criminoso envolvendo frigoríficos e pagamentos de propina a políticos e funcionários públicos. Em sua delação, Daniel Gonçalves Filho relatou que intermediou pagamentos de propina de frigoríficos a parlamentares do Paraná em troca de mantê-lo no cargo de superintendente.
Os inquéritos foram solicitados pela PGR em julho do ano passado, ainda ao ministro Dias Toffoli, que era o relator e deixou o caso após assumir a presidência do STF. A delação de Daniel, que está sob sigilo, cita recebimento de propina pelos deputados federais Osmar Serraglio (PP-PR), João Arruda (MDB-PR), Sérgio Souza (MDB-PR), Dilceu Sperafico (PP-PR), Hermes Frangão Parcianello (MDB-PR) e pelo ex-deputado André Zacharow (MDB-PR). O delator também citou ter enviado pacotes de carne para o senador Roberto Requião (MDB-PR) para manter uma boa relação com ele.
Em depoimento à Justiça Federal em 16 de março do ano passado, Daniel fez referência aos pagamentos aos parlamentares, sem detalhar os nomes:
“Eu tinha que fazer caixa para pagar deputado mensal e fazer caixa para pagar deputado em campanha. Os Estados brasileiros são assim”, afirmou.
Após a autorização de Cármen Lúcia, o pacote de inquéritos foi protocolado no STF na segunda-feira (14). Até agora, é o maior pedido conjunto de investigações contra políticos no STF feito pela gestão da atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Com a abertura dos inquéritos, começam as diligências investigativas, como tomadas de depoimentos, obtenção de documentos e análises dos fatos delatados.
Os trechos da delação de Daniel Gonçalves Filho envolvendo empresários, funcionários do ministério e demais pessoas que não possuem foro privilegiado foram enviados para a Justiça Federal de Curitiba, onde estão tramitando as investigações da Carne Fraca em primeira instância.
Os políticos citados negam recebimento de propina e rechaçam as suspeitas de irregularidades. Osmar Serraglio afirmou que nunca recebeu pagamentos intermediados por Daniel Gonçalves Filho.
“Eu nunca tive nenhum elo financeiro que ele possa fazer referência. A indicação dele foi da bancada do PMDB do Paraná.”
Sérgio Souza também negou o recebimento de propina e defendeu que o assunto seja investigado.
“Não tenho nenhum problema em relação a esse assunto, respondo a qualquer pergunta. A questão precisa ser esclarecida”, disse.
O senador Requião classificou de “ridícula” a acusação do delator. O deputado João Arruda afirmou que “as referidas alegações são caluniosas e desprovidas de qualquer comprovação”.