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Por Redação O Sul | 18 de março de 2019
Esposa do então presidente João “Jango” Goulart (1918-1976), que governou o Brasil entre 1961 e 1964 (até ser deposto pelo golpe militar), na primeira metade da década de 1960 a gaúcha Maria Thereza Fontella Goulart era apontada como uma das mulheres mais bonitas do mundo. E não era por falta de concorrência à altura.
Ela estampou as capas das principais revistas nacionais e estrangeiras – a norte-americana “Time” e francesa “Paris Match”, por exemplo, a incluíram entre as mais belas primeiras-damas do mundo, ao lado da princesa Grace Kelly (Mônaco) e de Jacqueline Kennedy (EUA).
Apesar de todo esses holofotes, Maria Thereza sempre preferiu a discrição, fato que explica parcialmente o título “Uma Mulher Vestida de Silêncio” (Ed. Record), biografia assinada por Wagner William e que está chegando às livrarias. Afinal, trata-se de uma senhora que ainda hoje prima pela elegância e privacidade.
A trajetória é digna de um livro, série ou filme. Aos 16 anos, casou-se com o homem que conhecera casualmente dois anos antes, aos 26 tornou-se primeira-dama e antes de completar 29 foi obrigada a se exilar no Uruguai com o marido e dois filhos, Denize e João Vicente.
Maria Thereza sempre lutou para manter a memória de Jango, inclusive negando notícias que perseguiram a figura do marido, taxado de “comunista” e “subversivo” por tentar fazer reformas políticas, administrativas, eleitorais, agrárias e universitárias quando comandou o País.
“Uma Mulher Vestida de Silêncio” conta em detalhes a vida de uma mulher preparada, pela escola e pela família para uma rotina pacata e sem sobressaltos. “Uma menina que não fazia força para agradar, era amiga da solidão, não sorria à toa, sabia ser linda e que enfrentava qualquer discussão”, define o biógrafo. Ao todo, foram 12 anos de pesquisas e entrevistas.
A vida hoje
De acordo com Wagner William, o autor do livro, Maria Thereza hoje tem aproximadamente 82 anos (o registro de nascimento foi feito tardiamente, dando margem a imprecisões sobre a sua idade) e continua uma mulher em silêncio, mas não há tema que a incomode. “O que a tira do sério é o erro, especialmente quando proposital”, revela.
Ele menciona algumas “saias-justas” pelas quais a ex-primeira-dama passou nos últimos anos. Em 2003, durante a exibição da novela “Mulheres Apaixonadas” (Rede Globo), uma reportagem da revista “Época” sobre mulheres com ciúme excessivo (um dos temas abordados pela trama) sugeriu que Maria Thereza havia se tornado alcoólatra. Se o responsável pela matéria ouvisse a viúva de Jango, saberia que ela nem mesmo gosta de bebidas, as quais ingere apenas socialmente, em eventos.
Outro episódio, de cunho sensacionalistas, ocorreu quando uma recente comissão da Câmara dos Deputados incumbida de investigar a morte de Jango colocou Maria Thereza em posição suspeita, em uma nebulosa tese de assassinato do marido por envenenamento, “injetando gás sarin em seu copo d’água”. Mesmo beirando o surrealismo, a hipótese chegou a ser repercutida por alguns jornais.
“Acredito que o silêncio não seja uma opção ou reflexo de um traço de personalidade”, define o autor. “Como ainda encontrar paciência para falar ou responder às mesma perguntas de sempre? Por isso é muito difícil que ela aceite dar entrevista, então prefere continuar em silêncio.
(Marcello Campos)