Terça-feira, 21 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2019
O taxista de confiança do publicitário André Augusto Vieira, acusado de ser operador do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, aparece na planilha da transportadora de valores usada pela Odebrecht como recebedor de supostos pagamentos de R$ 3,5 milhões da empreiteira não revelados à Justiça. Marcelo Marques Casimiro foi apontado como portador da propina de R$ 3 milhões que resultou na condenação de Bendine a 11 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em março do ano passado. O ex-presidente da Petrobras e do BB (Banco do Brasil) foi solto no dia 9 deste mês por decisão da Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal).
Na ação condenatória, Vieira confessou ter pedido para Casimiro ir até o flat alugado por seu irmão no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, receber três pagamentos de R$ 1 milhão feitos pela Odebrecht. As entregas foram feitas nos dias 17 e 24 de junho e 1.º de julho de 2015 com as senhas “oceano”, “rio” e “lagoa”, no apartamento 43 do prédio na Rua Sampaio Viana. Na planilha apreendida com a secretária do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o “departamento da propina”, os três pagamentos de R$ 1 milhão estão vinculados ao codinome “Cobra”, que foi atribuído a Bendine pelos delatores da empreiteira.
Segundo Vieira, R$ 950 mil foram repassados a Bendine em um restaurante em São Paulo e dentro do carro em frente ao aeroporto de Congonhas. O publicitário confirmou a versão de delatores da Odebrecht de que a propina combinada com o ex-presidente do Banco do Brasil (governo Dilma Rousseff) seria de R$ 17 milhões, equivalente a 1% da dívida de R$ 1,7 bilhão que a empreiteira iria financiar com o banco. Destes, só R$ 3 milhões teriam sido pagos. Bendine nega todas as acusações.
Em depoimento prestado ao então juiz federal Sérgio Moro, em outubro de 2017, na condição de testemunha, Casimiro confirmou ter ido ao flat receber as “encomendas” a pedido de Vieira. Ele disse que deixava os pacotes no apartamento e que nunca soube que se tratava de dinheiro. Questionado por Moro sobre quantas vezes havia feito isso, o taxista respondeu: “três vezes”.
Príncipe
Uma planilha da transportadora de valores usada pela Odebrecht, porém, indica que outros sete pagamentos de R$ 500 mil foram feitos para Casimiro meses antes no mesmo endereço. Segundo o documento, as entregas ocorreram em outubro de 2014 e março e abril de 2015, com senhas diferentes, como “corsa”, “monza” e “omega”.
As datas, senhas e valores do arquivo da transportadora coincidem com as informações da planilha do doleiro Álvaro José Novis, encarregado pela Odebrecht de providenciar os pagamentos de propina e caixa 2 a políticos, marqueteiros e agentes públicos em São Paulo. A diferença é que na planilha da Odebrecht os supostos repasses extras recebidos pelo taxista estão vinculados a um outro codinome: “Príncipe”.
O arquivo ainda está sob sigilo no STF, mas é considerado um importante elemento de prova pela força-tarefa da Lava-Jato porque as informações contidas na planilha estão sendo confirmadas por depoimentos, quebras de sigilo telefônico e registros de imagens em prédios e de hospedagem em hotéis.