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Saúde Por que os atletas arriscam a vida e têm prazer com a dor?

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Segundo especialista, praticar uma atividade desafiadora dá prazer. Crédito: Reprodução

Há alguns anos, Pedro Oliva resolveu bater um recorde mundial. Ele se jogou, dentro de um caiaque, em uma cachoeira de quase 40 metros, a mesma altura de um prédio de 13 andares, no rio Sacre, no Mato Grosso. Por que um louco faz um troço desses com si próprio – e, digamos, com sua mãe?

Uma peça do humorista Leandro Hassum brinca com situações parecidas: “Fulano vai escalar o Everest. Para quê?! Carregando peso, congelando, com falta de ar. Aí o cara sobe, sobe, chega lá em cima… e desce! Outro sujeito morreu ao saltar carros em chamas, tentando bater o próprio recorde. Por quê?! O recorde era dele! Se o idiota ficasse em casa, seguia recordista.” A resposta, afirma Steven Kotler, autor do livro “Super-humanos” (editora Sextante), é esta: existe algo chamado “estado de fluxo”, que deixa nosso cérebro muito excitado. Ele defende que humanos não sabem parar quando encucam com o desempenho de alto nível. A recompensa cerebral de romper uma barreira é tão prazerosa que vicia.

É uma força poderosa e difícil de entender. Todo praticante de esporte extremo tem histórias de machucados graves e até de colegas mortos. “O risco de morte deveria fazê-los pegar leve”, diz Kotler. Mas os números mostram que, quando um surfista morre, o número de praticantes do esporte, na verdade, aumenta. “Isso desafia as noções fundamentais da biologia, da psicologia, da filosofia.”
Mihaly Csikszentmihalyi, ex-professor da Universidade de Chicago (EUA), tentou entender o “estado de fluxo” acompanhando de alpinistas a executivos, operários e idosos. Ele concluiu que, entre ficar relaxado ou envolvido em alguma atividade desafiadora, a segunda opção dava mais prazer a todos. “A sensação de motivação com frequência era fruto de atividades dolorosas, arriscadas e difíceis, mas que aumentavam a capacidade da pessoa e envolviam novidade e descoberta.”

O cérebro tem um sistema de pensamento explícito – que nos permite uma argumentação racional, por exemplo – e um sistema implícito – ações automatizadas, habitais, como um motorista experiente que dirige sem ficar refletindo se é hora de trocar a marcha.

Os pesquisadores, utilizando técnicas como o eletroencefalograma, estão surpreendentemente descobrindo que o uso do sistema implícito é muito mais frequente do que se imaginava. Até jogadores de xadrez seguem muito mais o “instinto” do que a razão. Músicos de jazz fazem igual.

E veja: quando alguém já treinou milhares de vezes alguma coisa, o “instinto” automatizado se mostra muito mais confiável que a lógica. O bom jogador, quando recebe a bola, não fica filosofando sobre o que vai fazer com ela, sob pena de perdê-la; ele simplesmente faz. Ocorre um “estado de fluxo” – as coisas acontecem, o drible, o chute, o lance genial, meio que sozinhas. Até a criatividade tem se mostrado mais implícita que explícita.

O que as pessoas estão fazendo ao se submeter repetidamente a atividades desafiadoras é treinar o seu sistema implícito, ou seja, programar novas ações instintivas no seu cérebro. O cérebro gosta muito de aprender a identificar padrões e nos recompensa com doses elevadas de dopamina – por ela, vale até sentir dor.
Por que o cérebro quer tanto fortalecer o sistema implícito? Ações automatizadas gastam menos energia do que o raciocínio, e humanos são máquinas de poupar energia – não é sem razão que a gente gosta tanto de chocolate. Já a adrenalina, ligada ao medo, não leva à busca por risco, ao contrário do que diz o senso comum. Kotler cita o caiaquista americano Tao Berman: “Estou muito longe de ser viciado em adrenalina. Não suporto a sensação. Ela significa que é hora de cair fora do barco para repensar”.

No fim, é mais um tijolo na ideia que vem dominando a neurociência: somos reféns da nossa química cerebral. Até na hora de se jogar da cachoeira. (Ricardo Mioto/Folhapress)

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https://www.osul.com.br/por-que-os-atletas-arriscam-a-vida-e-tem-prazer-com-a-dor/ Por que os atletas arriscam a vida e têm prazer com a dor? 2015-08-22
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