Segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de outubro de 2019
Filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) atuam para tentar contornar a crise interna no PSL. De acordo com relatos feitos à Folha, os dois buscam uma solução para evitar que o pai deixe o partido e, assim, provoque uma debandada em massa de integrantes da sigla.
Hoje, Eduardo e Flávio controlam, respectivamente, os diretórios do PSL em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Uma ruptura com o partido teria impacto direto para os congressistas em seus Estados — que figuram entre os cinco maiores colégios eleitorais do País.
Além disso, também pesa o fato de que, hoje, o PSL é o partido com a maior fatia de dinheiro público entre todos os 32 registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em 2020, somando os fundos partidário e eleitoral, o PSL pode ter em caixa R$ 350 milhões — o valor leva em conta as estimativas de R$ 1 bilhão para o fundo partidário, e os R$ 2,5 bilhões propostos pelo governo para o fundo eleitoral.
De acordo com aliados de Flávio, o aceno da ala da sigla ligada ao deputado Luciano Bivar (PSL-PE), atual presidente do partido, ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), preocupou o senador.
A avaliação é a de que o filho mais velho do presidente — que trava um embate público com o chefe do Executivo fluminense — seria o principal prejudicado se o pai optar pela desfiliação do PSL.
Sem saída, ele teria de acompanhar o presidente e perderia capital político no Rio. Por isso, desde o início da crise, Flávio tem atuado para tentar contornar as desavenças.
Na segunda-feira (14), ao participar de um evento em São Paulo, Eduardo afirmou que a crise “é contornável”. “Só para morte não existe solução”, disse após um debate sobre reforma tributária na Band.
O grupo ligado a Bivar admite que os filhos fizeram gestos de reaproximação na semana passada, mas que, desde então, a temperatura interna só subiu.
Hoje, de acordo com esses relatos, uma ala da bancada do PSL não topa a reconciliação e tem atuado para que a desfiliação de Bolsonaro e de seu grupo aconteça o quanto antes.
A tentativa de apaziguar os ânimos também surgiu em meio à avaliação de que, hoje, não há clima para a criação de um novo partido. Bolsonaro foi aconselhado por seus advogados a não abraçar esse caminho.
O cenário apresentado é o de que, além de o TSE não estar disposto a validar a criação de uma 33ª sigla, a opinião pública não receberia bem a ideia de que Bolsonaro estaria construindo um partido para chamar de seu.
Na segunda, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro ainda avalia sua relação com o PSL.
“O presidente analisa a situação referente ao seu posicionamento [sobre o PSL] dia a dia. E usa a metáfora que lhe é usual de que qualquer casamento é passível de divórcio”, disse.
Ele afirmou ainda que Bolsonaro “não qualificou que este casamentou vai gerar divórcio, ao menos no momento”.
A crise de Bolsonaro com o PSL se arrasta desde os primeiros meses da gestão, mas ganhou nova dimensão no início da semana passada, quando o presidente pediu que um apoiador esquecesse o partido e disse que o presidente da legenda, Luciano Bivar, estava “queimado pra caramba”.
“Esquece o PSL, esquece o PSL, tá OK?”, cochichou Bolsonaro no ouvido do apoiador que o esperava na porta do Palácio da Alvorada, para gravar um vídeo.
Depois de eleger Bolsonaro com discurso contra corrupção, o PSL enfrenta uma crise ética desde que foi atingido por suspeitas de candidaturas laranjas, caso revelado pela Folha em fevereiro e que já resultou na queda do ex-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno.
Entre os suspeitos de irregularidades está Bivar, que é deputado federal, e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.