Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 24 de maio de 2020
O 7 a 1 para a Alemanha, na Copa de 2014, é uma ferida que ainda não cicatrizou. Mas, assim como o vice-campeonato para o Uruguai em 1950, no famoso Maracanazo, está longe de ser o maior vexame do futebol brasileiro. Nada se compara ao roubo da Jules Rimet, taça que a Seleção conquistou de forma definitiva após o tricampeonato mundial em 1970, mas que foi roubada, na sede da CBF, em 19 de dezembro de 1983, e derretida dias depois. A menos de um mês dos 50 anos da façanha de Pelé & Cia. nos gramados mexicanos, o jornalista Wilson Aquino, de forma precisa, desvenda, em ‘O roubo da taça — preconceito, tortura, extorsão’, o mistério sobre o sumiço do Santo Graal do futebol. Leitura obrigatória para quem não sabe o que aconteceu e para quem acha que sabe.
1) Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre o roubo da Jules Rimet?
Sempre achei que faltava no mercado uma obra que contasse direitinho como foi essa história. Como esse ano a gente completa 50 anos da conquista da Jules Rimet, surgiu a ideia de botar isso a limpo, contar como foi, o que houve, o que não houve, passar pelos personagens, contar um pouco da trajetória de quem acabou se envolvendo nesse caso. Havia pouca informação sobre o fato, e, quando tinha, era uma coisa meio debochada sobre essa grande tragédia nacional.
2) Muitas novidades?
Para quem só ouviu falar da história, tudo é um pouco novo. Todo mundo sabe que a taça foi roubada e derretida, mas temos que levar em conta que isso aconteceu na época da ditadura, onde a imprensa não teve acesso às informações, pois tudo era sigiloso. Ela se baseou só no que a polícia falou, em entrevistas muito mal dadas. Ou seja, tudo é um pouco novo, a forma como foi planejado e executado o roubo, pago em dinheiro e com cheque pré-datado.
3) Mas a própria polícia ‘bateu cabeça’, certo?
Houve uma rixa entre a Polícia Federal e a polícia do Rio, pois logo que a taça foi roubada quem deveria assumir a investigação era a polícia estadual. Só que, como vivíamos na ditadura, o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, determinou que a PF se apossasse do caso e isso causou certo conflito entre as polícias.
4) Em qual ponto da narrativa entra o preconceito?
O livro fala do preconceito que as pessoas negras sofreram na época. A polícia revelou que o crime fora praticado por dois homens negros e no fim da investigação isso não se confirmou. Na verdade, todos os envolvidos eram brancos.
5) E a tortura?
A gente fala da tortura porque, naquela época, não se podia falar nela. Mas houve muita tortura por parte principalmente da Polícia Federal. Inclusive, ela chegou a torturar as pessoas certas, porque os condenados, os culpados, acabaram sendo pegos, mas só confessaram o crime mediante tortura.
6) A quais conclusões podemos chegar sobre o roubo?
Houve negligência da CBF em relação à guarda da taça. A sala de troféus da entidade (a sede era na Rua da Alfândega 70, no Centro) ficava no terceiro andar do prédio. Só a Jules Rimet e outras três taças estavam no nono andar, onde ficava o gabinete da presidência, o salão nobre e a sala de reuniões. Eles colocaram a taça em uma vitrine, em um nicho, e a exibiam para os cartolas ou para quem ia visitar o presidente da CBF, Giullite Coutinho. Havia uma sala que tinha um cofre blindado, mas a taça era exibida neste nicho, com vidro a prova de bala, só que a moldura que segurava esse vidro era de madeira. Os ladrões conseguiram remover essa moldura com uma chave de fenda.
7) Então a CBF pode ser responsabilizada pelo roubo?
Houve um grande erro de planejamento na hora de se montar essa ‘caixa forte’ para manter o objeto mais sagrado do futebol mundial guardado na sede da entidade. Por ser uma taça que tinha uma aura divina, o Santo Graal do futebol deveria ter sido melhor protegido.