Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2019
Há hoje uma divisão na diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre lançar ou não uma consulta pública sobre a regulamentação para a plantação e produção da Cannabis para fins medicinais, uma iniciativa que a agência vem protelando há alguns anos.
A consulta pública seria o primeiro passo para uma futura regulamentação.
Uma das dúvidas é sobre a autorização ou não para as universidades poderem plantar para fazer pesquisas científicas com a Cannabis.
Técnicos da Anvisa já viajaram a Portugal, Canadá e Inglaterra para fazer pesquisas, e a agência se considera tecnicamente preparada para avançar na discussão do tema.
Hoje, a principal barreira é política. William Dib, o diretor-presidente da Anvisa, teme que o governo federal seja refratário à discussão do tema. Oficialmente, a agência não se compromete com nenhuma previsão de quando abrirá a consulta pública.
Maconha medicinal
A história da maconha medicinal é feita de reveses – reflexo da política antidrogas encabeçada pelos EUA na década de 1970, que dificultou durante anos os estudos com canabinoides. Esse cenário, no entanto, vem se alterando com o passar do tempo. Tanto que a própria OMS recomenda agora não tratar o canabidiol, um derivado da erva, como uma droga.
Segundo a entidade, essa substância não provoca dependência e, assim, não merece um tratamento tão rigoroso. No entanto, a OMS reconhece que ainda não há consenso sobre a eficácia desse agente terapêutico contra diversas doenças.
De acordo com dados de um levantamento feito pela agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research, 59% dos brasileiros entrevistados são simpáticos até mesmo quanto à liberação do THC – substância psicoativa presente na planta – para fins medicinais.
Talvez até como reflexo dessa maioria, em 2015 dois compostos da maconha foram liberados com esse intuito no Brasil. Em janeiro, o canabidiol saiu da lista da Anvisa de substâncias proibidas no País e, em novembro, o THC também foi retirado por determinação da Justiça Federal do Distrito Federal.
Agora, quando o assunto é o uso recreativo da planta, 43% dos 1 200 entrevistados da pesquisa são totalmente contrários à descriminalização. O fato é que, do ponto de vista da saúde, é diferente debater o uso medicinal da maconha em relação ao uso recreativo. Ao menos no primeiro caso, a ciência já dá amostras de seu potencial terapêutico contra certas encrencas.
Veja doenças em que a maconha medicinal pode atuar:
Epilepsia — O CBD aumenta a carga de anandamida em áreas da massa cinzenta. Ao se ligarem a receptores celulares, essas moléculas reduzem a superativação de circuitos nervosos, que acarreta as convulsões.
Ansiedade — Combinados, CBD e THC agem em duas frentes. O primeiro eleva a concentração de anandamida no hipotálamo, no hipocampo e na amígdala. O segundo ativa os receptores no córtex pré-frontal e (de novo!) na amígdala e no hipocampo.
Esclerose múltipla — Tanto o THC como o CBD participam aqui. Ao interferir em regiões que controlam a dor, bem como os movimentos (caso do cerebelo), inibem a passagem dos impulsos por trás de desconfortos, espasmos e rigidez muscular.
Dor crônica — O corpo tem receptores para os canabinoides tanto no cérebro como nos nervos periféricos. Ao se ligarem a eles em áreas específicas, as moléculas da maconha diminuem a transmissão dos sinais dolorosos.