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Por Redação O Sul | 6 de maio de 2018
Enquanto a Coreia do Norte realiza reuniões de cúpula com seus arqui-inimigos – primeiro a Coreia do Sul e em breve os Estados Unidos –, a China corre para não perder influência. Seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, retornou na quinta-feira (3) a Pequim depois de dois dias na capital norte-coreana, Pyongyang, onde se reuniu com o líder do país, Kim Jong-un, reforçando a posição da China como a melhor amiga do Norte. As informações são do jornal The New York Times.
A China mantém uma vantagem econômica substancial (compra mais de 80% das exportações norte-coreanas), mas na concorrência estratégica intensificada entre ela e os EUA é preocupante que Kim esteja usando essa rivalidade para reduzir a dependência da China, antigo benfeitor de seu país.
Uma das tarefas de Wang era tentar impedir que Kim se incline para os EUA sob o presidente Donald Trump, segundo alguns especialistas chineses.
“Pequim provavelmente gostaria de garantir que Pyongyang não desenvolverá um relacionamento mais estreito com Washington do que com Pequim”, disse Zhao Tong, um especialista em Coreia do Norte no Centro Carnegie-Tsinghua para Política Global, em Pequim.
“A visita do ministro das Relações Exteriores chinês, a primeira em 11 anos, parece fazer parte desse esforço.” Pequim suspeitava de que Washington talvez concordasse em pôr de lado seus desacordos nucleares com a Coreia do Norte e aceitasse as capacidades nucleares do Norte se servissem para conter a China, de acordo com ele.
Wang pode ter passado uma mensagem cuidadosa, lembrando o Norte de que a China foi sua verdadeira amiga apesar do caminho duro nos últimos seis anos desde que Kim chegou ao poder, disse Xia Yafeng, um historiador chinês na Universidade de Long Island (EUA).
“Wang Yi tinha uma missão: coordenar-se com os norte-coreanos sobre como conversar com Trump”, disse ele.
“Ele pode aconselhar os norte-coreanos, mas não pode ameaçá-los. Ele pode dizer: ‘Tomem cuidado quando falarem com Trump. Nós estaremos sempre ao seu lado’.”
A China seguiu a contragosto a exigência de Washington no ano passado de que apoiasse as sanções da ONU destinadas a negar ao Norte reservas cambiais críticas da venda de carvão, minérios, pescado e vestimenta.
Mas o desejo de Pequim de punir a economia norte-coreana provavelmente está vacilando, disse Zhao. “Posso imaginar a China tomando medidas adicionais para melhorar os laços com a Coreia do Norte”, disse Zhao. Estas incluiriam trabalhar para conectar o Norte às redes rodoviárias e ferroviárias no nordeste da Ásia e incluir o país em sua Iniciativa Cinturão e Estrada.
Já há sinais de que a China está tentando atenuar algumas das restrições econômicas. Empresários na região nordeste da China, que faz fronteira com a Coreia do Norte, dizem que alguns trabalhadores norte-coreanos estão retornando à China com vistos de curto prazo, e que esperam que o comércio se reforce em breve.
“Eu consigo imaginar a China já iniciando estudos de opções para aumentar a cooperação econômica com a Coreia do Norte em áreas que não violariam as atuais resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, disse Zhao.
Pequim ficou irritada e surpresa ao ser excluída de vários itens na declaração conjunta que as Coreias do Norte e do Sul emitiram na última sexta-feira (27), ao final de sua reunião de cúpula.
As duas Coreias disseram que iniciariam negociações com Washington para um tratado que ponha formalmente fim à guerra da Coreia, que assolou a península de 1950 a 1953. A declaração mencionou conversas “trilaterais ou quadrilaterais”. Se forem “trilaterais”, incluirão as Coreias do Norte e do Sul e os EUA, mas não a China, que enviou milhões de soldados para lutar ao lado do Norte na guerra.