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Mundo A Espanha colhe os frutos de uma revolução feminista iniciada há 15 anos

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Mulheres avançaram nos direitos, na representação política, no comando de empresas, mas ainda enfrentam violência e machismo. (Foto: Pixabay)

Primeiro, elas exigiram que não as matassem ou agredissem por serem mulheres. Organizaram-se, protestaram e ganharam, há exatos 15 anos, uma pioneira lei contra a violência de gênero, até hoje elogiada.

Mas não quiseram parar por ali. Pediram igualdade de salários; o pleno direito a decidir sobre levar adiante ou não uma gravidez; a metade do poder político; e a equiparação aos homens nas instâncias decisórias das empresas.

Com mais ou menos sucesso em suas demandas, as espanholas tiveram uma vitória inequívoca: conseguiram que sua agenda se instalasse de vez no dia a dia de uma sociedade que, em apenas uma geração, tornou-se uma das que avançam mais rapidamente em direção à paridade entre os sexos, segundo o levantamento anual do Instituto Europeu de Igualdade de Gênero (Eige, na sigla em inglês).

O caminho é longo, e ainda falta muito para que a Espanha — nona no ranking de paridade 2019 da EIGE, divulgado em outubro —, alcance o objetivo do movimento feminista: a igualdade de oportunidades e voz.

“O sistema de inserção das mulheres no comando de grandes empresas espanholas ainda é insuficiente”, sentenciaram Manu García, José Ignacio Conde-Ruiz e Manuel Yáñez, autores de um relatório sobre a participação feminina nos conselhos diretivos de conglomerados europeus.

Na Espanha, 36% das empresas são dirigidas por mulheres, alta recorde de 42,8% só em 2018, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Mas é no detalhe que mora o diabo: entre os pesos-pesados do Ibex-35, a primeira divisão da Bolsa de Madri, só cinco das 35 têm paridade de gênero na administração.

Numa ponta, o grupo de moda Inditex, dono da marca global Zara, alcançou em 2019 72% de mulheres entre seus diretores; na outra, a subsidiária espanhola da siderúrgica ArcelorMittal, com sede em Luxemburgo, é um clube do bolinha com 100% de homens no comando. Entre os extremos, a média segue baixa: Telefónica (dona da brasileira Vivo, e com 24% de mulheres na direção), Banco Santander (21%) e a seguradora Mapfre (13%).

Gabinete mais feminino

Em meados de 2018, após uma moção de censura — espécie de impeachment do parlamentarismo espanhol — que pôs o Partido Socialista no poder após seis anos e meio de governo conservador do Partido Popular, a fotografia do novo ministério deu a volta ao mundo. Onze dos 17 ministros eram — e ainda são — do sexo feminino, incluindo a vice-primeira-ministra e as titulares de Defesa, Justiça, Economia, Trabalho e Indústria. É, segundo a ONU Mulheres, o gabinete mais feminino do mundo.

Nas eleições de abril, a Espanha se tornou o primeiro país europeu, quinto do mundo, com mais mulheres deputadas: 47,43%. A repetição das eleições em julho, ante a incapacidade do socialista Pedro Sánchez para chegar a um pacto com outras formações, permitiu que a extrema-direita disparasse. Menos mulheres foram eleitas. Com 43,1% de deputadas na atual legislatura, o reino ibérico perdeu a liderança continental de igualdade para a Suécia.

A presença crescente de vozes femininas na política foi a responsável por pressionar o ex-ministro da Justiça, Alberto Gallardón, a voltar atrás, ainda no governo anterior, na sua proposta de alterar a lei de aborto. Uma das mais progressistas do continente, a norma espanhola dá liberdade total para as mulheres interromperem sua gravidez, por vontade própria e a partir dos 16 anos, até a 14ª semana de gestação — ou 22ª, em caso de risco para a saúde da gestante ou de malformação do feto.

Estupro coletivo

Nos últimos tempos, como visto nas manifestações de 8 de março em 2018 e 2019 — as maiores do mundo, segundo o governo espanhol, com 550 mil pessoas pelas ruas de Madri e Barcelona —, a pressão das mulheres tem derivado em avanços palpáveis. Foi assim no caso que envolveu um estupro coletivo, durante as tradicionais festas de San Fermín de 2016, em Pamplona.

Uma jovem de 18 anos acompanhou cinco homens, um grupo autointitulado “La Manada”, à portaria de um prédio durante a madrugada de 7 de junho daquele ano. Todos praticaram sexo com a vítima, segundo ela sem consentimento. Depois de dois anos de um julgamento intensamente midiático, eles foram condenados a nove anos de prisão por “abuso continuado”. A intensa onda de protestos nas ruas, lideradas por mulheres que pediam a tipificação do crime como estupro, fez o Tribunal Supremo revisar a sentença para estupro múltiplo, e a pena, para 15 anos. O governo criou uma comissão para elaborar mudanças na lei.

“A sociedade ganhou uma batalha com pressão e conscientização. Mas ainda é preciso mudar muita coisa”, diz Altamira Gonzalo, jurista e vice-presidente da organização feminina Themis. “O problema não está tanto no código penal. Apesar dos avanços, a sociedade ainda é muito machista. O direito continua a ser feito e interpretado por homens.”

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https://www.osul.com.br/a-espanha-colhe-os-frutos-de-uma-revolucao-feminista-iniciada-ha-15-anos/ A Espanha colhe os frutos de uma revolução feminista iniciada há 15 anos 2019-12-29
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