Terça-feira, 19 de agosto de 2025
Por Fabio L. Borges | 19 de agosto de 2025
A estupidez é a recusa em usar a inteligência emocional e a sensibilidade que nos faz humanos
Foto: DivulgaçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A estupidez, essa sombra que paira sobre as relações humanas, não é apenas um simples deslize, é algo tóxico que abala as relações interpessoais. Ela é um fio solto que, se puxado, desmancha laços, corrói afetos e abre abismos onde antes havia pontes.
Mas o que é, afinal, a estupidez? Não se trata apenas de burrice emocional, é uma questão de educação.
A burrice é a ausência da capacidade de raciocínio, muitas vezes promovida pela falta de conhecimento. Já a estupidez é a recusa em usar a inteligência emocional e a sensibilidade que nos faz humanos.
É o marido que, exausto, chega em casa e encontra a esposa cobrando algo em tom áspero e, em vez de ouvir, retruca com rispidez, em tom igual ou ainda mais alto que o da parceira, porque a conversa já iniciou no tom errado.
É o pai que acorda o filho com um grito, sem perceber que sua grosseria planta uma semente de mau humor e distância.
É o chefe que dá ordens como quem lança pedras, minando a motivação de uma equipe inteira.
É o amigo que responde com frieza, erguendo muros onde antes havia confiança.
Quantas vezes o tom, e não o conteúdo, transforma uma conversa em conflito? Às vezes, o modo de falar impressiona ou afeta muito mais do que o próprio conteúdo.
O marido não errou ao querer descanso após um dia difícil, a esposa não errou ao querer atenção, o pai não errou ao querer disciplina, nem o chefe ao buscar resultados. Mas o modo de falar fez toda diferença…
A estupidez é, portanto, uma escolha muitas vezes inconsciente de suas consequências, uma escolha de reagir sem pensar, de deixar a frustração falar mais alto…
Não podemos impedir o outro de ser estúpido, mas podemos escolher não revidar, não nos tornarmos espelhos de sua impulsividade.
Quando nos deparamos com a estupidez alheia, talvez devêssemos tentar chamar atenção de uma maneira mais acolhedora e até mesmo lúdica naquele momento, de modo que a pessoa perceba o que está fazendo.
“Calma, seu Saraiva! Eu já vou sair da frente da televisão, não precisa ficar tão bravo” — acompanhado de um belo sorriso.
Ou então: “Meu amor, eu prometo que eu faço o que você quer, mas eu preciso descansar agora, não faça como Vovó Naná, fica calma que depois eu faço uma massagem gostosa nos teus pés”.
A estupidez é coletiva e viral. Na política, vemos discursos que, em vez de unir, incitam ódio, cavando trincheiras entre iguais, tornando simples adversários em verdadeiros inimigos.
Nas redes sociais, o anonimato vira licença para o veneno, comentários ácidos e maldosos, cancelamentos sem reflexão, julgamentos que esquecem a humanidade do outro interlocutor.
No trabalho, líderes confundem autoridade com arrogância, esquecendo que inspirar é mais eficaz que mandar, muitas vezes perdendo sua equipe devido ao assédio moral.
E, assim, a estupidez se espalha, como um eco que ressoa em cada esquina de nossas vidas…
O impacto, muitas vezes, é invisível. Não percebemos as rachaduras que se formam em cada palavra ríspida e em cada silêncio cortante.
Casamentos se desfazem e amizades se perdem em meio a mal-entendidos nunca resolvidos. Filhos se afastam, levando consigo o vazio de palavras que nunca foram ditas com carinho…
A estupidez é um veneno lento, que corrói o que há de mais precioso: a conexão humana.
A solução para isso começa pela autoconsciência, aquele instante em que percebemos a raiva subindo, e que a resposta afiada está na ponta da língua, e mesmo assim escolhemos parar, respirar e pausar…
Se estou escrevendo sobre isso, é porque já passei por essas experiências, mas ao longo da vida adquiri sabedoria e inteligência emocional que me ajudaram a lidar com essas situações.
A sabedoria é o oposto da burrice e da ignorância: é o exercício de transformar o impulso em reflexão e o conflito em entendimento.
Nunca esqueça: a estupidez é um atalho para o abismo. Mas lembre-se que a gentileza também é um eco que volta multiplicado e pode começar com algo tão simples quanto um bom dia e um belo sorriso no rosto.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.